Completamos um ano de afastamento dos hospitais. O fato é excepcional em nossa trajetória de quase 30 anos dentro do SUS.
A saudade que afoga o peito só não é maior que o desconsolo pelas vidas perdidas neste ano. São mais de 280 mil pessoas mortas pela Covid-19.
Parte dessas vidas foram levadas pela falta de leitos em unidades de saúde. E esse é, como anunciado há um ano, o principal motivo pelo qual todos nós devemos cumprir o distanciamento social.
Em um momento de pandemia, não há vaga para todos. Não há UTI para todos. Não há oxigênio para todos. Não há profissionais de saúde para todos. O sistema público de saúde atende como pode às demandas de vagas em UTI de um sistema privado também à beira do colapso em todo o país.
Desde o dia 17 de março estamos comprometidos com essas orientações e mantivemos todas as equipes trabalhando de casa. Em 2020, nossos profissionais se desdobraram para criar projetos virtuais que pudessem tornar a arte do palhaço um antídoto potente em momento de incertezas.
2021 chega com um processo de vacinação lento e dúvidas quanto ao retorno presencial ao trabalho. É com apoio das equipes de saúde que nossos artistas vão circulando, via tablet, pelos hospitais, na tentativa de trazer um respiro, por meio da arte, para profissionais e crianças e adolescentes internados.
Por atuar no equilíbrio entre saúde e cultura, a associação Doutores da Alegria enxerga dois movimentos. De um lado, o fortalecimento do SUS e de instituições como Fiocruz e Instituto Butantan, que prestam atendimento inestimável e gratuito aos brasileiros e brasileiras. Um trabalho orquestrado a muitas mãos, sob sólidas bases científicas, que garante direitos básicos à população.
De outro, um prolongado processo de reconstrução que o setor cultural enfrentará, com espaços culturais, teatros e editais de fomento buscando resistir aos efeitos da pandemia. A classe artística, que por meio da música, do teatro, da literatura e do cinema acalenta nossas angústias nesta pandemia, sofre com a ausência de plateias e de políticas públicas mais consistentes.
E, se equilibrando nas cordas, um terceiro elemento: a saúde mental. Como estão os enfermeiros depois de um ano à frente da batalha? Como estão médicos e médicas que tomaram decisões de vida e morte?
Como estão aqueles que sofrem o luto? Aqueles que perderam mães, pais, avós, irmãos? Como estão crianças e adolescentes em um turbulento ano escolar? Como estão, como estamos? Como você está?
Vamos cuidar das cicatrizes de uma sociedade que chora quase 300 mil mortos com mais responsabilidade e afeto.
O vírus ainda não deu trégua. Se cuidem.