Neste final de semana acontece o 6º Encontro Nacional de Palhaços que Atuam em Hospital. Esta edição tem dois aspectos inéditos: será totalmente virtual, em função da pandemia, e terá como destaque o fortalecimento de uma nova rede de palhaços que atuam em espaços de saúde, de forma colaborativa e com grupos de todo o Brasil.
O encontro foi desenhado e organizado por um coletivo de organizações: Cirurgiões da Alegria, Instituto Hahaha, Nariz Solidário, SOS Doutores Palhaços, Trupe da Saúde e Doutores da Alegria. Mas é importante saber que esta história começou faz tempo.
Como nasceu a rede
Em 2007 Doutores da Alegria criou o programa Palhaços em Rede, com o compromisso de identificar, formar e fomentar diálogos, articulando grupos que atuavam com a figura do palhaço. Assim surgiu uma rede de relacionamento e cooperação, com o propósito de melhorar a qualidade do que é levado para crianças e adultos hospitalizados, reforçando a identidade e a vocação de cada grupo.
Ao longo deste período aconteceram diversos encontros nacionais que serviram para reforçar a rede. O primeiro deles foi em 2010, com edições seguidas a cada dois anos. Em 2014, por exemplo, reunimos mais de 100 participantes de 13 estados brasileiros. Nestes eventos, mesas traziam convidados para debater temas ligados ao universo da arte e da saúde no Brasil, enquanto oficinas e espetáculos davam dimensão prática da atuação.
O programa também oferecia formação específica a grupos pelo Brasil, com integrantes da Escola Doutores da Alegria, que desenvolviam oficinas institucionais e artísticas com a intenção de aprimorar a prática de cada grupo.
Interlocução internacional
Em 2011, nosso fundador Wellington Nogueira participou de uma conferência que reuniu diversas organizações em Israel. “Naquele momento vi como o trabalho se expandiu pelo mundo, se fortaleceu e, hoje, nos traz o desafio de pensar no futuro de uma maneira mais intensa”, diz ele.
Dois anos depois, Doutores da Alegria sediou o Clown Doctor Summit, encontro de lideranças internacionais, em São Paulo. Recebemos integrantes de The Clown Care Unit (Estados Unidos), Le Rire Médecin (França), Operação Nariz Vermelho (Portugal), Dream Doctors (Israel), Clown Doctors (Austrália), Bola Roja (Peru), KlinikClowns Bayern (Alemanha) e Jovia (Canadá).
A interlocução com organizações internacionais foi essencial para entender o papel do nosso país no movimento, nos posicionar e buscar referências de outras maneiras de chegar aos pacientes nos hospitais.
A iniciativa se desdobrou em participações em encontros globais nos anos seguintes. Raul Figueiredo representou Doutores no Congreso de Payasos Hospitalarios em Cali, na Colômbia, organizado pela CaliClown. Em 2018, uma comitiva nossa foi a Viena, na Áustria, para o Health Clowning International Meeting, que reuniu 400 participantes de 50 países.
O simbólico encontro contou com o ator que criou e sistematizou a atividade no mundo: o americano Michael Christensen, fundador do The Clown Care Unit, de Nova York. “Isso aqui supera todas as minhas expectativas! Sou muito grato e orgulhoso pelo que nosso movimento se tornou. Este é apenas o começo de algo muito maior, já que o humor pode ser benéfico para muitas áreas fora do ambiente hospitalar.”, disse na ocasião.
Também foi enxergando o fortalecimento da rede internacional que a associação Doutores da Alegria entendeu que era hora de descentralizar a rede brasileira, reconhecendo o crescimento e o amadurecimento de grupos e indivíduos no país.
A rede é de todos
O Brasil é o país com o maior número de voluntários que atuam em hospitais, tendo a figura do palhaço como referência, mas pouco se articula para além de nossas fronteiras. Olhar para iniciativas que se aprofundaram no trabalho, têm liderança em suas regiões e dinâmicas de atuação diversas é um passo fundamental neste sentido.
Nos últimos anos, convidamos estas potentes iniciativas para integrarem um grupo de trabalho que formulou premissas e diretrizes para o estabelecimento da nova rede de palhaços que atuam em espaços de saúde. O coletivo chegou a cinco princípios:
Fortalecer: práticas, conceitos, grupos, indivíduos e rede
Compartilhar: saberes, oportunidades, pedidos de ajuda, recursos
Fomentar: discussões técnicas e políticas, colaboração, formação, incidência
Responsabilizar: indivíduos e grupos dos quais a Rede depende para existir
Dialogar: com os demais atores do ecossistema no qual a Rede está inserida
Em 2020, ano da passagem de bastão da rede, fomos surpreendidos com o coronavírus, que minou a possibilidade de um grande encontro presencial. Neste momento, a possibilidade de um evento virtual chegou para nós com a imagem de uma travessia.
“Neste ano imprevisível, vamos trazer a imagem da travessia, pois não basta desejar mudanças, é preciso construí-las, atravessando as dificuldades.”, diz Lourdes Atié, diretora de Formação da Doutores da Alegria. “Abriremos o encontro desafiando os participantes a sonhar como um caminho para não perder a esperança, por mais difícil que seja.”, completa.
O sonho e a imagem da travessia devem se materializar nos debates, oficinas e rodas de conversa. Ao final do encontro, a rede será batizada com um novo nome e estará pronta para iniciar a travessia – fortalecida e embalada pelas mãos de palhaços e palhaças de todo o Brasil.
Que venha o 6º Encontro Nacional de Palhaços que Atuam em Hospital!