Pois é, sabemos que infelizmente o fato faz parte do cotidiano do hospital, e consequentemente do cotidiano dos Doutores da Alegria, mas mesmo assim não conseguimos esconder nosso assombro a cada vez que nos anunciam que um jovem paciente está em estado terminal.
A dupla Charlito e Zequim Bonito começou sua jornada no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil em agosto e, em setembro, recebeu o primeiro anúncio desse tipo. Face a ele, fazemos o que podemos: juntamos nosso preparo emocional à nossa habilidade profissional para encarar a falência de um corpo que, em princípio, não mereceria perecer tão cedo.
Acontece que somos de carne e osso e, por mais preparados que estamos, a morte de uma criança acaba nos atingindo de uma maneira ou de outra. Até mesmo quando a razão nos diz que ela está dentro das estatísticas, ou quando a consciência profissional tenta nos amenizar com um resignado “faz parte da vida”, a criança que morre nos escancara o quão breve a potência da vida, injustamente, pode durar. E isso pode causar revolta, pena, resignação, mas – esperamos – nunca indiferença.
Vale lembrar que nem sempre somos atingidos no momento exato do anúncio, no corredor do hospital. Às vezes a ficha desmorona horas ou dias mais tarde quando, insuspeitadamente, ela penetra por uma das brechas de nossa aparente fortaleza. Outras vezes somos atingidos indiretamente, a ponto de acreditarmos que não fomos atingidos… Até que, do nada, uma melancolia (ou tristeza, ou desesperança…) sem razão aparente toma conta de nós. E então, novamente, recorremos à nossa razão, ao nosso profissionalismo – ou a algum tipo de crença religiosa ou não – a fim de encontrar novos argumentos que expliquem, ou ao menos desviem momentaneamente de nosso caminho, os mistérios e angústias da morte.
E agora nossa pergunta a você, profissional do Itaci, que está nos lendo: Como você lida com essa questão?
Dr. Zequim Bonito (Nereu Afonso)
Dr. Charlito (Ronaldo Aguiar)
Instituto de Tratamento do Câncer Infantil – São Paulo
Setembro de 2013