Um pai e seus três filhos estavam no hospital. Eles são do interior de Pernambuco, lá para as bandas de onde o sol é mais perto da terra e o vento faz a curva.
O pai é meio careca, sorridente, bigodudo, vestia azul marinho, sempre muito disponível para os palhaços. Ele gosta de ver os filhos felizes. A filha do meio é menina, usa um laço azul na cabeça, camisa também azul, pernas finas e sorriso no rosto. O filho mais novo, de uns 8 anos, é meio galego, com os cabelinhos queimados do sol. O mais velho é todo esticado, magrão, bonitão, deve ter uns 10 anos.
A família sempre fica animada com a chegada dos palhaços, embora eu lembre de um dia que o filho mais novo fez questão de se mostrar todo emburrado. Fez bico e quis deixar a enfermaria. Depois ficou todo animado quando, junto com Dr. Dud Grud, prendeu o Dr. Marmelo dentro do banheiro.
Dia desses, antes de chegar à enfermaria daquela família, algo chamou a nossa atenção.
Da janela do corredor vimos os três filhos e o pai sentados em uma pequena mesa. Eles almoçavam juntos. Nos olhamos. Achamos muito forte a cena. Eu nem lembro qual foi a última vez que almocei com meus pais e minhas irmãs, todos juntos. Você se lembra? Eu não lembro nem o que comi ontem, na verdade…
Com o tempo, cada um foi tomando seu rumo lá em casa e compartilhar um almoço virou coisa rara. Aquela família me fez voltar um pouquinho no tempo e até lembrei dos rituais pra comer: meu pai comia de colher e nunca deixava ninguém comer de chapéu. Pra ele, era uma falta de respeito. Deixar comida no prato nem pensar! Minha mãe vivia reclamando porque eu fazia da mesa posta uma bateria. Isso em pleno café da manhã. Comida no prato nunca fui de deixar, diziam que eu era magro de ruim. É tão bom quando lembro dessa época!
A gente tá falando é de amor.
É isso que a gente sente quando entra na na enfermaria e encontra essa família. Um verdadeiro exemplo de que dificuldade pouca é bobagem quando se tem amor.