Uma das regras da Besteirologia – se é que ela tem regra – é que nós temos que ter nosso olhar sempre aberto para o novo.
Cada dia, cada momento, cada criança, cada “bom dia”, cada rotina, por mais rotineira que seja, temos que sentir tudo como se fosse a primeira vez. Temos que ter memória de peixinho dourado, que depois de três segundos esquece tudo e tudo fica novo de novo! Mas essa lição nós, besteirologistas, não aprendemos em livros. Onde encontrar?
Eu (Dr. Marmelo) e a Dra. Mary En estudamos um final de semana inteirinho: ela no sábado e eu, no domingo. Aprendemos que a forma com que as crianças pensam, enfrentam seus problemas, nas suas brincadeiras, nas suas reações, nas mudanças de humor, na ingenuidade, o desejo de ter, de jogar, de experimentar, a ignorância do perigo, o desejo de abarcar tudo, seu imaginário e, especialmente, seu olhar para o mundo, é a maneira com que devemos encarar a Besteirologia!
Em um plantão dia desses, eu e Mary En nos deparamos com uma criança de poucos centímetros. Tinha acabado de nascer, estava no bercinho toda enrolada e toda meladinha… Vestígios do parto! Um ser bem frágil… E na Besteirologia, no palhaço, a fragilidade representa uma grande fortaleza!
Sua pele era seda pura, novinha em folha… Novo, tudo novo, a imagem era maravilhosa! Não sabíamos se era menino ou menina, mas quando questionamos, ops, surpresa! O movimento do bebê fez escapulir seu lençol… Era menina! E era tão inédita que não tinha nem nome fixado no leito.
A partir de agora, por alguns anos, o olhar dessa criança será de descobrimento, de curiosidade, olhar o que nunca foi visto o tempo todo. Enquanto a gente cantarolava uma música quase que em sussurro, o bebê desgrudou um olhinho, olhou para o mundo e… Olhou com bastante curiosidade para nós!
Precisa responder onde encontrar nossa fonte de estudos? O olhar da menina observava as coisas com tanta curiosidade que nos levou à nossa própria história, de quando nos sentimos assim, novinhos, despidos de toda e qualquer impureza, sem nada traçado, tudo por vir. Já dizia o filósofo Jostein Gaarder: A única coisa de que precisamos para nos tornarmos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas.
Os bebês possuem esta capacidade, mas à medida que crescem, a perdem. Deste modo, podemos comparar um filósofo a uma criança: tanto um quanto o outro ainda não se acostumaram com o mundo e não pretendem se acomodar com as coisas.
Dr. Marmelo (Marcelo Oliveira)
Dra. Mary En (Enne Marx)
IMIP – Recife
Agosto de 2013