Baruch Espinosa, holandês que viveu no século XVII, construiu um pensamento que até hoje dá subsídios ao trabalho dos Doutores da Alegria.
O filósofo fala sobre a força dos encontros e sobre como eles podem afetar o corpo humano. É mais ou menos assim: quando um corpo encontra com outro, pode ser que deste encontro surja um corpo mais potente ou que um decomponha o outro, diminuindo a potência de agir. Os efeitos dessas composições e decomposições podem gerar as chamadas paixões alegres ou as paixões tristes: quando nosso poder de ação é aumentado, ele alimenta paixões alegres, já as paixões tristes aparecem quando algo diminui nossa energia, nos ameaçando ou oprimindo.
Ele afirma ainda que a alegria é o aumento da potência de vida. Mas como alcançar este estado, esta potência, em uma situação de adversidade, como em um leito de hospital?
Um dos princípios que temos é o da não condescendência. Não consideramos ninguém um “coitadinho”, não agimos por dó ou por pena. Esse “olhar piedoso”, lembra Espinosa, é uma paixão triste.
“Ao fazer isso, você já está olhando para o paciente de uma maneira superior, dando qualificações para ele, e o grande barato do palhaço é a horizontalidade: é de igual para igual”, diz Wellington Nogueira, fundador da ONG. Norteamos nosso trabalho para que do encontro entre um palhaço e uma criança surja a alegria, a potência de vida. E esse sentimento, claro, ativa o corpo humano e traz benefícios para a saúde. Talvez seja a própria saúde.
“Ao encontrar uma criança que está numa situação difícil, o palhaço fala: Nada de moleza, vamos fazer exercícios hoje. Eu trouxe as bolhas para o senhor estourar”, conta Wellington, “E se disser não, eu digo: Tá bom. Então eu volto daqui a dois dias.”
Grupos de voluntários que se inspiram nos Doutores da Alegria muitas vezes dizem que é complicado deixar o “olhar piedoso” de lado quando se deparam com situações tenebrosas nos hospitais. E a mídia, de forma geral, tem nos acostumado a manter esse olhar. Pense nas situações em que balançou a cabeça, murmurou “coitado” e saiu andando ou seguiu pensando de forma negativa. Pense em como isso afetou sua saúde.
Pois vamos nos desacostumar, vamos agir de igual para igual, respeitando experiências de vida. Ao invés de lançar o olhar piedoso, procure agir a favor de algo que possa beneficiar alguém, que possa aumentar sua potência para sair de uma situação desagradável. Com dignidade e franqueza, respeitando o direito de escolha de cada um.
Vamos construir uma visão de saúde que se baseie na união entre corpo e pensamento! Se o corpo age, o pensamento também age! “E vice-versa”, nos diria Espinosa!