Toda vez que nos via, Nina caía num choro de dar dó. Não, não era choro de felicidade, tampouco era aquele choro de vai-embora-daqui-que-estou-com-medo-de-vocês. Bastava a nossa sombra aparecer e vinha um choro doído que merecia um abraço de consolo.
Algumas vezes Nina levava quem estava por perto para o choro também, como a amiga Amelia, no leito ao lado. Elas dividiam o espaço na UTI do IMIP, em Recife.
E o choro compartilhado doía nos palhaços também, mas a gente ficava junto, cantava, dava vasinho de flor para ela regar com a cachoeira que vazava dos seus olhos, sempre alertando para não usar todas as gotas de uma vez. Daí escapava um riso no meio do choro e abraçávamos aquela dor toda da maneira que se podia fazer.
Estávamos decididos a perguntar se Nina queria que a gente deixasse de fazer as visitas a Amelia, assim ela não precisava chorar tanto conosco.
Naquele mesmo dia encontramos Nina, tranquila, dizendo à psicóloga que sim, queria sempre a nossa visita. Soava quase como um pedido de desculpa pelo choro todo.
Daí, cantando nossa música mais bonita, falamos do tempo lá fora bem no ouvido da Amelia e da nossa alegria de continuarmos a visitá-la, torcendo para que tudo corresse bem. Ainda encontramos Nina mais duas vezes alternando entre o silêncio e o riso, entre o riso e a lágrima na borda do olho.
Certo dia, chegamos ao hospital e a Amelia havia partido para junto dos anjos. Também não encontramos a Nina. E aí foi a vez dos nossos olhos se encherem de lágrimas.