Dia desses me peguei relembrando histórias do hospital. Digo relembrando porque nós, palhaços e palhaças, seguimos em isolamento social enquanto segue a pandemia do coronavírus.
Estávamos na UTI do Hospital M’boi Mirim, em São Paulo. Tinham muitos bebês e uma criança com seus quatro aninhos. Assim que chegamos em seu leito, encontramos apenas um cobertor cinza com uma pessoinha enrolada dentro, sem mostrar nem um centímetro dela. Chorava e dizia sem parar que queria sua mãe.
A pessoinha ouviu a nossa chegada e tirou o olho para fora. Assim que viu a imagem dos dois besteirologistas, voltou para dentro do cobertor repetindo a ladainha. Nada substitui mãe. Quero minha mãe é mesmo quero minha mãe.
Fomos para o leito ao lado trabalhar com um bebê e sua mãe. Cantamos uma música. O menino de quatro anos novamente tirou a cabeça para fora do cobertor, mas ainda choramingava. Achamos que era uma abertura para uma abordagem, mas não. Ele queria mesmo sua mãe e nos disse entremeado de choro:
– Palhaços, vocês podem buscar a minha mãe?
– Podemos sim!
Fomos até quase a porta da UTI e retornamos. Ele seguia atento aos nossos movimentos.
– Mas espera aí! Como é a sua mãe?, perguntamos.
– É a minha mãe!
– Mas ela é bonita ou feia?
– Bonita.
– Mas ela é fedida ou cheirosa?
– Cheirosa…, ele respondeu esboçando um sorriso.
– E como é o nome dela?
– É mamãe!
Julgando satisfatória a descrição, fomos procurar “Mamãe”. E foi cruzar a porta do corredor que vimos uma mulher nos abordar e, como ainda dava para ouvir o choro, nos perguntou:
– É o meu filho que está chorando?
– Sim!
Achamos Mamãe e corremos de volta para entregar a encomenda para o menino, que a abraçou, deu beijinhos e disse: “Te amo!”.