Não é simples começar um relacionamento. Alguns pelo olhar, por serem apresentados por amigos, tantos pela porta da frente, outros pela porta dos fundos. E para casar, namorar ou até mesmo paquerar é preciso que ambas as partes estejam interessadas. Se permitam deixar entrar um na vida do outro.
Foi assim e é assim que até hoje vem acontecendo conosco, besteirologistas. E também foi assim que se deu nosso namoro com a UTI Neo Externa. Paqueramos e conversamos em nosso café da manhã desse ano – que é uma ação dos Doutores da Alegria para falar sobre o trabalho no hospital – e finalmente recebemos um ok!
Vamos fazer uma experiência, disse a Margarida.
Ficamos bem felizes pois aumentamos por conta própria o nosso itinerário de trabalho e ampliamos a área de atuação da Besteirologia em outro setor do Barão de Lucena.
Certa vez na fila, ou melhor, na fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiila do almoço, conversávamos com nossos botões em voz alta:
Pois é, Dr. Eu, agora temos mais bebês pra atender.
É mesmo, Dr. Lui… Tem uns tão pequenininhos, não é?.
Ah Dr. Eu, bebê é assim mesmo! Tem de todo tamanho… Principalmente, na UTI Neo Externa.
Aí uma funcionária que também estava na fiiiiiiiiiiiiiiiiiila ouviu a conversa e disse:
Ôxe! O que é que palhaços vão fazer lá? Esses bebês nem olham pra vocês!
Não sei se por desinformação ou por estar com o miolo mole prejudicado por causa da fome ou mesmo por algum outro despropósito qualquer não diagnosticado na hora, mas não conseguimos responder direito àquela criatura que confundiu Besteirologista com palhaço e nem sabe ao certo sobre nossos encontros no hospital. Como nos relacionamentos, a gente só vê o que se passa por fora e nem sempre por dentro.
Como contar para ela da alegria de todos que trabalham na UTI Neo com a nossa chegada? Como detalhar cada exame besteirológico que fazemos com as mães e pais? Como descrever o Y. com sua dança acrobática ao ritmo do nosso ultrassom?
Há coisas que transcendem o corpo e o olhar e só mesmo estando presente pra perceber que os bebês, seja lá qual for o tamanho, estão conectados com tudo à sua volta e é justamente aí que o palhaço atua. Às vezes atuamos miudinho como pede a ocasião e os resultados nos surpreendem.
Foi o que aconteceu com a menina M.
Ela estava toda mole, sem querer muita conversa. O Dr. Lui apresentou o Tobias, um boneco em formato de girafa que dançou, dançou e dançou. Ela? Apenas olhou, acompanhou na sua. Vendo que havia certo encanto da M. por ver Tobias requebrando tanto daquele jeito, perguntou o Dr. Lui:
M., você quer tomar conta do Tobias pra mim? Tenho compromisso e não queria deixá-lo só!
Ela balançou a cabeça dizendo “sim”. Lá ficou o boneco acompanhado de todas as recomendações intermináveis que o paspalho do Dr. Lui fez.
Na visita seguinte, M. continuava quietinha e o Tobias descansava na janela olhando o tempo passar. Na outra semana chegamos bem empolgados pra cantar uma música para ela, mas o abestalhado do Dr. Lui inventou de dormir. Acordou num solavanco, assustado com a violãozada que o Dr. Eu deu bem no meio da sua bun… (eita! quase que eu dizia “bunda”!).
Nunca pensamos que ela, na sua quietude, pudesse reagir daquela forma a um jogo físico tão bobo. Tentando ver se aquele era um bom efeito, Lui dormiu e acordou mais três vezes para a felicidade da garota, que ria mais a cada violãozada.
No encontro seguinte avistamos uma menina correndo pela Enfermaria… E para a nossa surpresa era a M.! Talvez aquela risada arrancada de surpresa tenha quebrado o encanto e arrancado a menina da cama…
Esperamos que de alguma forma que este relatório responda à moça que nos indagou sobre visitar bebezinhos. As bobagens podem fazer a nossa vida ser uma porta aberta para amores inesperados, é só bater!
Toc, toc, toc! Podemos entrar?
Dr. Eu Zébio (Fábio Caio)
Dr. Lui (Luciano Pontes)
Hospital Barão de Lucena – Recife
Maio de 2013