Quando conhecemos o F. saiu, pela primeira vez do meu bolso, o passarinho colorido de crochê que eu trouxe de uma viagem. O dedoche ainda não tinha nome e a ideia que veio na hora foi batizá-lo com o mesmo nome do menino. Descobrimos que o passarinho gostava de soltar beijos e, de repente, soltou um… bem, fez um cocô na cabeça do Dr. Marmelo! O F. deu muitas risadas com o feito e esse foi o nosso primeiro encontro.
Em outro dia, o passarinho foi novamente o elo entre nós e o menino, que nos aprontou uma grande surpresa. Mesmo com muita dificuldade em falar por conta da traqueostomia, F. tinha pedido à enfermeira pra colocar um “cocozinho” em sua mão. Quando chegamos, a enfermeira falou:
F., não vai mostrar a surpresa?
Ele abriu a mão e mostrou um pedacinho de silicone em formato redondinho.
É o cocô do passarinho! – bradou a enfermeira.
Nós nos olhamos e ficamos felizes com a surpresa, pois o menino estava entrando no jogo conosco. E ao brincar, a verdade de quem brinca é tão de verdade que a gente acredita nela e se diverte muito!
No terceiro encontro com o F., estávamos tocando e cantando música. Ele remexeu o corpo num gingado tão impressionante pra quem está assim, deitado, com tubos, que ficamos todos boquiabertos. A Dra Solange veio ver de perto e depois as enfermeiras foram chegando pra ver, todas comemorando muito o fato de ele estar dançando. E ele se sentiu todo importante com o seu progresso, ou simplesmente por ter, naquele instante, um prazer tão grande que é dançar.
Dra. Mary Enn (Enne Marx)
Dr. Marmelo (Marcelo Oliveira)
Instituto Materno Infantil Professor Fernando Figueira – Recife
Fevereiro de 2013