Se, por um lado, esse começo de ano ainda não apresentou um elevado número de casos respiratórios no hospital, por outro não deixou de nos impressionar com a variedade de diagnósticos.
Da “banal” fratura de uma perna, devido às intensas brincadeiras nas férias, até as tentativas de suicídio mais consequentes, eu e Dra. Manela já fomos apresentados a diferentes quadros clínicos. Também não faltaram atendimentos a casos sociais e, infelizmente, a constatação de um óbito e o consequente desespero da mãe na Observação Infantil.
Listados assim, friamente, esses casos parecem representar apenas uma mostra, desprovida de empatia, do que encontraremos ao longo do ano no Hospital M’boi Mirim, em São Paulo. Mas atrás, e para além da frieza dessa listagem, lembramos que cada caso é por nós encarado em sua singularidade. Se eles se inserem em um panorama estatístico, eles também se inserem em um panorama afetivo ao qual somos fortemente sensíveis.
Se nossa profissão, o palhaço, ensina a nos proteger de certos impactos emocionais, ela também – e paradoxalmente – nos ensina a viver profundamente cada um desses impactos a fim de que a arte e, sobretudo, a humanidade sejam reveladas por tais experiências.
É assim que uma tentativa de suicídio por parte de uma adolescente, o abuso sexual sofrido por uma criança ou a morte precoce de um bebê reverberam em nós tanto quanto – ou certamente mais do que – os eventuais sorrisos conquistados.
E é através dessas experiências que oscilam entre a conquista e a perda que tentamos crescer dentro de nosso ofício.