De longe já se ouvia sua risada, quase sempre acompanhada de outras gargalhadas. Mas talvez seja fácil falar que Renato Abreu carregava a base do riso frouxo consigo.
Para quem o conhecia, ficava nítida a percepção de que ele personificava um dos pilares mais importantes de Doutores da Alegria para além do riso: a construção de boas relações humanas.
Durante seus 18 anos de atuação na organização, Renato fortaleceu laços que devem durar para sempre em muitos corações.
Desde que deu os primeiros passos em Doutores, em meados de 2006, se percebia o altruísmo presente em cada uma de suas ações, que iam além das próprias atividades de trabalho.
Renato abraçou muitas áreas da organização, da recepção aos processos de produção administrativa e contato direto com estudantes da Escola. Mas, com braços tão largos, ele também abraçou e acolheu cada um no seu próprio mundo, criando um cenário especial e particular para cada colega de trabalho.
Renato, Renatinho, Rê, Reginato – a dupla inseparável, também tinha seus momentos de malcriação, como disse uma amiga próxima, mas no momento seguinte já voltava a ser quem era, cheio de alegria e disposição.
Na arte da palhaçaria, falamos que os momentos são feitos a partir da troca com as outras pessoas, dando base para o improviso. Um palhaço se apoia no outro para construir uma cena.
Podemos dizer que o Renato, sem saber, foi palhaço na vida de muita gente. Dando apoio para as cenas simples e felizes do cotidiano.
Aqui, nesta singela homenagem de Doutores da Alegria construída a muitas mãos, procuramos apenas pincelar o retrato de quem fez obra nesta vida.
Muito obrigado, Renato!
De todos os seus amigos e amigas da organização.
Em busca da Cidinha perdida…
Combinei com o Renato de conhecer a nova sede da Doutores na Líbero Badaró. Cheguei lá e estavam ele e a Cidinha. A Cidinha ainda estava com um certo receio da região central e queria ajuda para entender em qual portaria do prédio ela poderia sair. Combinamos então que íamos descer e mostrar a portaria correta, apontando o caminho de volta para casa.
Nisso, enquanto a Cida se ajeitava na sede, entramos no escritório vizinho para o Renato me mostrar. Me apresentei para as pessoas, olhei a paisagem da janela, conversamos um pouco. Quando voltamos para a sede que fica do lado desse escritório, a Cida já não estava mais.
Ficamos preocupados, ligamos e nada. Descemos o elevador para o 5º andar, que é onde fica uma das portarias, e nada. Descemos o elevador para o 2º andar, que é onde fica a outra portaria, nada.
Renato começou a entrar em desespero, mas ele tinha aquela risada maravilhosa de nervoso, então ríamos durante todo esse percurso procurando a Cida. Voltamos para o 5º, nada. Subimos para o 13º, nada da Cida.
Pedi para o Renato ficar no nosso andar, para caso a Cida aparecesse e não ficássemos nos procurando, e não nos acharmos. Desci novamente para o 5º andar, o porteiro disse que ela havia acabado de descer para o 2º.
Fui para o 2º e disseram que ela tinha acabado de subir para o 5º, voltei para o 5º e disseram que ela tinha acabado de subir para o 13º. Voltei para o 13º, Renato em desespero e eu ria. “Para de rir, Juliana, é sério! Cadê a Cida??????”
Desci novamente e a encontrei no 5º andar, nos abraçamos e rimos. Depois o Renato quis nos mostrar o mirante do prédio, que digamos de passagem, é uma vista maravilhosa.
Assim eram os nossos dias, cheios de presepadas, risadas e afeto. Nos amamos muito.
Com todo meu amor, Juliana Barros.
Renato, só riso.
Renato era só sorriso. Havia sempre uma risada salpicando a conversa, com um timbre delicioso, que fazia a gente rir por atração. Durante os últimos anos, nossas conversas se organizavam assim:
- Uma ou duas palavras sobre o apoio técnico que ele daria à minha aula do dia, no galpão dos Doutores da Alegria (ele resolvia tudo muito rápido).
- Uma rara e rápida menção ao São Paulo Futebol Clube, nosso time, que não estava nos proporcionando grandes entusiasmos nos últimos tempos.
- E aí, sim, o assunto migrava para a paixão e crença que partilhávamos com fervor – a mobilidade urbana ou, mais especificamente, a bicicleta!
Falávamos de câmbio, aro, freio, riscos de quem pedala na caótica urbe, e dicas de todos os tipos. Foi ele que me indicou a bicicletaria onde eu poderia trocar de magrela. “Fica ao lado da lotérica”, ele disse.
E toca eu ir até o Butantã procurar a lotérica que serviria de ponto de referência à bicicletaria. “Pô Renato, eu fui lá, mas não tem lotérica nenhuma, achei só a bicicletaria”.
“Se não é do lado da lotérica, não é a boa”, ele retrucou. Fui lá mais duas ou três vezes procurar a tal da boa bicicletaria ao lado da invisível lotérica. “Nada, Renato, não existe”, eu insisti.
Eu estava a ponto de desistir quando, de repente, percebemos juntos que, tanto um tinha explicado errado, quanto o outro não tinha procurado certo. Gargalhamos. Mas deu certo. Comprei a bike onde ele me indicou.
Ele pedalava mountain, e eu, urbana. Nos entendíamos assim, na diferença também. (…)
Estranho lembrar disso tudo, agora que o amigo não está mais aqui. Um misto de cumplicidade com saudade me invade.
E fica o timbre. O timbre espontâneo da sua risada, querido parceiro, ecoando no meu peito.
Nereu Afonso da Silva
Querido Renato
Em 18 anos de convivência com nosso querido Renato, não lembro de ter visto um laivo de mau humor. Sempre gentil, carinhoso e receptivo. Mão pra toda obra, até para o que não era da sua obrigação… Várias vezes me cedeu seu computador para que eu pudesse escrever os mil e um projetos e relatórios que, por vezes, precisei.
Desde então, me chamava de sócia. Era chegar na sede e ele mandava: “Bom dia, sócia! Vai trabalhar hoje?” E eu sempre inventava uma desculpa para não trabalhar, alergia às teclas, dentista, ordem médica, qualquer desculpa esfarrapada. E dizia que excepcionalmente naquele dia, era ele que tinha que pegar no pesado.
Uma luz, amava as bikes e era presença nas manifestações voltadas para a cidadania.
Vou guardar pra sempre seu abraço apertado, amigo.
Vera Abbud