Ai…Ai… A vida de besteirologista não é fácil, viu!
Quando chegamos na terça-feira no hospital, descobrimos que na Oncologia Pediátrica apareceu um palhaço de verdade.
Era o A., um adolescente um tanto quieto que quando nos viu puxou papo e disse que era palhaço. Mostrou as suas fotos vestido de palhaço, fazendo perna-de-pau, jogando malabares, fazendo mágica – um artista completo!
A. nos perguntou se trabalhávamos em algum circo. O Dr. Charlito logo riu da Dra. Pororoca e respondeu “Sim”, dizendo que a Pororoca trabalhava de Monga (a mulher de circo que se transforma em macaco). Ela puxou a peruca do Charlito dizendo que ele era o Homem Careca e os dois começaram a brigar.
O menino insistiu nessa história de palhaço.
Com todo o respeito e nada contra os palhaços, mas explicamos a ele que somos médicos besteirologistas e que cuidamos de besteira, bobagem, bobice, miolo mole, pulga atrás da orelha e, para não esquecer, pum preso. Ele educadamente fingiu que acreditou na gente, e nós fingimos que o enganamos, dizendo que não éramos palhaços.
A quinta-feira chegou e outro dia de trabalho começava. Fomos novamente à Oncologia e não falamos com o A. pois ele estava dormindo. No quarto ao lado havia uma senhora com uma criança. Nos apresentamos e perguntamos se podíamos entrar.
Podem entrar! Ela não tem medo não, o avô dela é igualzinho a vocês!, disse a senhora.
Estranhamos, sem entender nada.
Percebendo que ficamos um tanto desconfiados, ela foi em direção ao seu guarda-roupas e pegou alguma coisa para confirmar sua afirmação. Mostrou uma foto do palhaço Pimentinha – seu marido e avô da garotinha. Na verdade, não era só uma foto, era um cartão pessoal do seu trabalho em festas, batizados, jogo de futebol, casamentos… Enfim, o Pimentinha parecia ser bem famoso!
Conclusão: em uma semana encontramos duas famílias de circo no hospital.
Outra conclusão: os palhaços vão dominar o mundo e, se não dominarem, o hospital já foi conquistado.
Isso mostra, para quem tinha dúvida: palhaço também fica doente.
Dr. Charlito (Ronaldo Aguiar)
Dra. Pororoca (Layla Ruiz)
Hospital Santa Marcelina – São Paulo
Maio de 2013