No Hospital Geral do Grajaú existe uma parte adulta, coladinha com a ala infantil. E, sempre que possível, damos uma passadinha ali para consultar o pessoal.
Em um dos quartos encontramos pai e filho. O pai, um senhor de 64 anos que vou chamar de João. Seu João estava já em cuidados paliativos, segundo fomos informados, aquele seria seu último dia aqui nessa forma de existir.
Não soube muito como chegar naquele quarto e nem ao menos se deveríamos estar naquele quarto, mas o filho de seu João nos convidou a entrar e assim o fizemos.
O silêncio do quarto era interrompido apenas pela respiração daquele senhor e pela canção que cantamos.
Muitas coisas estavam sendo ditas ali entre pai e filho, em uma comunicação particular feita pela mão do moço que acariciava os cabelos brancos e crespos do pai e também pelos olhos do mesmo moço que não buscava outra paisagem além daquele rosto, que parecia com o seu próprio.
Após a saída do quarto, ficou a dúvida: será que deveríamos ou não estar partilhando daquele momento?
O que tenho entendido a cada dia, é que o trabalho Besteirológico feito em um hospital não é, definitivamente, apenas sobre piadas e gags.
Foi quando o Dr. Da Dúvida disse que a nossa estada ali, naquele quarto, pode talvez ter sido uma espécie de abraço, uma forma daquele filho não passar sozinho por aquele momento tão difícil, um partilhar de solidão.
Nem a Dr. Ursa e nem eu, a artista, sabemos ainda essa resposta. E nem sabemos se ela existe, porque cada dia é um dia e cada caso é um caso. É nesse lugar sensível e atento que nós, de Doutores da Alegria, atuamos.