Conhecemos o J. na UTI. Percebemos logo de cara que era um caso gravidíssimo, uma mistura de grave e seríssimo.
Passaram-se semanas e nos encontramos há alguns dias numa das enfermarias. Chegamos bem perto dele e perguntei:
– Sabe quem está falando?
Ele, que não está enxergando, disse com uma articulação impecável e quase inaudível:
– D- o- u- t- o- r-E-u!
Para em seguida articular:
– C-a-d-e-o-D-o-u-t-o-r-M-a-r-m-e-l-o-? no mesmo tom entrecortado pela traqueostomia.
Marmelo, meu parceiro de plantões besteirológicos, estava sendo substituído pela Dra. Tan Tan, outra tonta.
Passadas duas semanas, sua mãe veio nos contar uma história.
Quem nunca viu a TV ligada sem ninguém prestar atenção nunca entrou numa enfermaria do Hospital da Restauração. Pois foi justamente num momento de vuco-vuco que uma única pessoa de ouvidos atentos conseguiu identificar – e ele ouviu uma única vez – a voz da Dra. Tan Tan numa entrevista na televisão.
Foi o J. Ele chamou a atenção de sua mãe, que avisou a todo mundo e, graças aos seus apurados ouvidos, todos na enfermaria puderam assistir à tonta na TV.
Dr. Eu_zébio (Fábio Caio)
Hospital da Restauração – Recife