por Daiane Carina, Luis Vieira da Rocha, Ronaldo Aguiar e Simone Ribeiro – diretoria
Saúde, cultura e assistência social, três pilares do trabalho da associação Doutores da Alegria, passaram por muitos desafios nos anos recentes. Pela primeira vez desde que começamos o programa de Palhaços nos Hospitais, há mais de três décadas, precisamos nos ausentar presencialmente dos hospitais em 2020 por conta de uma pandemia global que, entre muitas consequências, aumentou as necessidades no campo da assistência social. No cenário nacional, o setor cultural vivenciou não apenas os impactos da Covid-19, mas de um projeto político que não enxergava a cultura como fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade.
Desde que a pandemia se instalou como realidade, tivemos que nos acercar ainda mais dos nossos propósitos, afinar os instrumentos de gestão e investir em novas soluções e inovação social.
Em 2022, ano em que a presencialidade voltou a ser norma nas atividades da sociedade, um dos nossos desafios como organização foi lidar com o arquivamento do plano Plurianual de 2022-2023 da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet (que, à época, havia sido renomeada como LIC pela então Secretaria Especial da Cultura, vinculada ao Ministério da Cidadania e posteriormente ao Ministério do Turismo). Pela decisão do Governo Federal, fomos autorizados a executar apenas as atividades aprovadas no Plano Anual de 2021, com prazo de execução prorrogado até 31 de dezembro de 2022 e suplementação orçamentária autorizada em 50%.
Nesse cenário, a Diretoria mobilizou as áreas de captação de recursos e o setor jurídico da organização, que estiveram dedicadas à viabilização de instrumentos de incentivo estaduais, como o Programa Municipal de Apoio a Projetos Culturais – Pro-Mac, da Prefeitura de São Paulo, e o primeiro projeto da organização em parceria com a Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo – Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONDECA.
Ao longo do ano, executamos oito leis de incentivo de maneira quase simultânea, que abarcavam as diversas ações da associação, sem que houvesse sobreposição de leis. Nesse sentido, a Diretoria exerceu um papel importante ao planejar coletivamente as atividades e os diversos cronogramas, possibilitando e facilitando as suas realizações, que priorizavam a atuação para crianças, jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade social, alinhados à Política Nacional de Assistência Social.
Outro desafio de 2022 disse respeito ao campo da gestão de relações saudáveis dentro da organização, que foi impulsionado por uma situação difícil: uma denúncia de assédio moral. A nossa decisão como Diretoria a partir do diálogo com os associados da organização, aprovada em Assembleia Geral Extraordinária, foi criar um Comitê de Ética, constituído pela Diretoria, associados e sociedade civil, com o apoio especializado da Pacto Planejamento e Desenvolvimento, uma consultoria externa.
Como resultado desse processo, o cargo vago na Diretoria de Formação não foi ocupado e o Comitê produziu um relatório contendo uma série de recomendações à associação a partir dos fatos ocorridos e das análises realizadas. Os principais encaminhamentos, que vão embasar ações que começaram em 2022, mas vão se desdobrar nos próximos anos, são o desenvolvimento de boas práticas de gestão, o estabelecimento de ações afirmativas e a revisão institucional da Escola Doutores da Alegria.
Em 2022, realizamos ainda uma seleção de elenco para atores substitutos em São Paulo que trouxe nove artistas para a organização. A decisão de trabalhar apenas com artistas profissionais, tomada desde a criação dos Doutores da Alegria, solicita disponibilidade para atuar junto ao acompanhamento, treinamento e atualização desses artistas, que abraçam o ambiente do hospital como uma nova possibilidade de atuação e desenvolvimento de repertório. Entre os critérios observados durante o processo seletivo estiveram a experiência artística na linguagem do palhaço, outras habilidades desenvolvidas e a compatibilidade com a atuação no hospital. Além disso, a inclusão desses nove artistas deve gerar maior diversidade ao elenco, possibilitando que estejamos mais preparados como organização para enfrentar os desafios de uma sociedade democrática que se pretende mais justa e igualitária.
No campo da formação, tivemos a finalização do processo formativo da 9ª turma do Programa de Formação de Palhaço para Jovens, realizada pela Escola Doutores da Alegria. A formação contemplou jovens em situação de vulnerabilidade e risco social que passaram por um curso de dois anos de duração, com aulas diárias e foco na linguagem do palhaço. O curso é uma das nossas ações para ajudar a modificar realidades sociais e econômicas, que continua como prioridade para a organização.
Encerramos o ano de 2022 com a abertura das inscrições para a 10ª turma no mês de dezembro, recebendo candidaturas de jovens entre 17 e 23 anos em situação de vulnerabilidade social e incentivando a inscrição de pessoas negras, indígenas, transgênero, pessoas com deficiência e pessoas pertencentes à comunidade LGBTQUIAPN+, o que reafirma o nosso compromisso de colaborar com as políticas públicas que promovem inclusão e diversidade.
Além disso, abrimos novas perspectivas no trabalho da associação no Rio de Janeiro. Iniciamos o planejamento de um novo modelo de atuação, incluindo o programa Palhaços nos hospitais, além do programa Plateias Hospitalares. O hospital parceiro escolhido para receber o programa é o Hospital Municipal Getúlio Vargas Filhos, o Getulinho, em Niterói. Realizamos reuniões com a gestão do hospital, assinatura do termo de cooperação e reuniões internas de planejamento.
São muitas as dificuldades de quem atua no terceiro setor no Brasil. Ainda assim, o trabalho da associação Doutores da Alegria consolida sua importância, construída ao longo de mais de três décadas, não só junto às crianças, seus pais e aos profissionais de saúde, mas à sociedade como um todo. E, como sociedade, sonhamos um novo futuro que estamos ajudando a construir.