Não deveria ser assim, mas infelizmente é: o número de leitos disponível é insuficiente para a carga de pacientes que o hospital recebe. E como a vocação do hospital é receber aqueles que necessitam de cuidados, e no caso da zona sul de São Paulo esse número não é pequeno, coloca-se pacientes onde espaço houver, em cantos e corredores.
Sim, estamos longe de um ideal de atendimento, mas não longe da solidariedade básica que faz com que um ser humano auxilie outro na manutenção de sua vida. Médicos, enfermeiros, auxiliares, fisioterapeutas, psicólogos se desdobram para dar conta da situação. Lutam para que o transbordamento de pacientes e patologias não comprometa a dignidade dos envolvidos. Bravamente, afastam o caos que insiste em dar as caras.
É nesse cenário, de corredor repleto de macas ocupadas por homens e mulheres com mais ou menos idade, que nos deparamos em nosso itinerário habitual de palhaços rumo à Pediatria. Entre uma criança e outra, cruzamos inúmeros adultos em nosso trajeto. E os olhos adultos nos olham com curiosidade. Olhos que param, questionam. E nós atendemos como podemos. Ora com um aceno, ora com um sorriso e, quando um fiapo de relação se estabelece, ousamos ampliar o jogo, interagimos e juntos tentamos modificar a crueza do ambiente.
E saibam que nesses rápidos momentos pelo corredor vivenciamos de tudo. Cada um tem um flash de história para compartilhar. Cada um tem sua parcela de tristezas e conquistas. Um mais fascinante do que o outro, e não exatamente pelo drama que protagonizam, mas pela esperança que temem superá-lo.
Dr. Zequim Bonito (Nereu Afonso)
Dra. Emily (Vera Abbud)
Hospital Municipal do Campo Limpo – Sâo Paulo
Abril de 2013