No Dia Mundial da Educação, neste 28 de abril, o que temos a comemorar? Ano passado, nesta mesma data, muitos nem se lembraram dela, diante da perplexidade em que vivíamos. Afinal, o mundo tinha acabado de entrar em uma pandemia.
Muitos países rapidamente se organizaram em relação ao funcionamento das escolas, mas aqui no Brasil, em que não existe gestão centralizada no âmbito governamental, tudo tem girado em torno do “abre e fecha”. Isso tem servido para gerar dúvidas, equívocos e omissões, sendo que os mais prejudicados têm
sido os estudantes de todas as faixas etárias.
No ano passado, tentamos fazer as escolas funcionarem fora de seus prédios. Foi um tempo de muitos desafios. A escola foi para casa dos alunos, para quem tinha acesso a tecnologias digitais, mas suas casas não viraram escolas. Aqueles que não tinham acesso à internet ficaram à deriva.
Foi um ano difícil, em que descobrimos o quanto a pandemia potencializou as desigualdades sociais. Acreditávamos que já ia passar… Assim começamos 2021, sem sair de 2020, agora com a pandemia em um quadro muito pior que no ano passado.
Por aqui, na Escola Doutores da Alegria não foi diferente. Os alunos que em 2020 estavam no último ano do curso Formação de Palhaço para Jovens, nosso curso centrado na linguagem do palhaço, com caráter profissional, voltado para jovens em situação de vulnerabilidade, teve que passar por uma mudança inesperada.
Com a sede fechada, as aulas passaram a ser virtuais e aí tudo se complicou.
Embora os alunos recebessem uma bolsa-auxílio para poder estudar, seus recursos tecnológicos como celulares e suas condições materiais, tanto de moradia como de convivência social, já que residiam em sua maioria em localizações periféricas, foram fatores determinantes.
Eles exigiram da organização um esforço conjunto para os alunos não desistissem de estudar e que pudéssemos seguir com uma escola de qualidade, embora no formato virtual, até outubro. Foi quando passamos a trabalhar com pequenos grupos de convivência estáveis que podiam se encontrar para exercícios artísticos presenciais.
Foi um tempo em que fomos obrigados a fazer muitas coisas pela primeira vez.
Tivemos que enfrentar o medo de errar, de saber dizer “não sei”, de não ter respostas e viver um dia de cada vez. A provisoriedade permanente. Mas um esforço enorme para que todos aprendessem com a experiência vivida – alunos e formadores.
No começo do ano lançamos um edital para uma nova turma do curso de formação. Recebemos jovens cheios de esperanças, que viam no curso uma possibilidade de abrir novas perspectivas para suas vidas. Eles também vinham bastante desanimados pelas escolas que haviam estudado completando sua escolaridade básica.
Hoje, nesta data, queremos afirmar que mesmo com todas as dificuldades que enfrentamos e que ainda vamos enfrentar, para nós a educação, seja formal ou não formal, é insubstituível e necessária. Sem ela não chegaremos a um nível de civilidade necessária para que não mais aceitar as injustiças sociais. É pela educação que a arte cumpre seu papel transformador.
Com a pandemia nos seus índices mais elevados neste momento, estamos nos preparando aqui na Escola Doutores da Alegria para fazer deste ano um tempo de esperança, mesmo com todas as dificuldades que o país enfrenta.
Um tempo que exige coragem para seguir buscando utopias. Então, feliz Dia Mundial da Educação!
Que seja um tempo de solidariedade, ética e colaboração, na defesa pelo direito das crianças a viverem sua infância de forma plena e segura, e que os jovens possam desfrutar do seu direito ao acesso ao conhecimento em todas as suas linguagens para seguir encantados em aprender e criar um mundo melhor.
Justamente por não podermos ignorar o que estamos vivendo, é que temos a chance de repensar a educação que estamos oferecendo para crianças e jovens, aquela que acontece na escola e que também precisa acontecer para além dela, porque todos os espaços sociais são educadores por natureza.
Por aqui, na Escola Doutores da Alegria, estamos firmes neste propósito.