O palhaço é feito de poesia. Buscamos descobrir as insignificâncias do mundo e revelá-las em alto e bom som.
Nossas insignificâncias são nossas virtudes. Adjetivos como imbecil, besta, estúpido, bobo e palhaço são grandes elogios para nós. Estamos na contramão do mundo, somos o avesso, nossa lógica é desconexa.
Valorizamos coisas bobas, fazemos piadas infames, queremos ser feios, ridículos, tropeçamos aqui e ali, batemos a cara na porta e nos alegramos com tudo isso. Porque sim.
Mas, apesar de palhaços, somos humanos. Temos questões para resolver, contas para pagar, problemas na família ou no trabalho, ficamos doentes, tristes, choramos, temos insônia, brigamos… A realidade, assim como o sol, nasceu para todos. Bem vindos ao mundo!
E em tempos difíceis, só o palhaço nos salva. Colocamos a pequena máscara vermelha, buscamos a conexão com o lado tolo do ser e lá vamos nós para mais um dia de trabalho. Mais um dia de insignificâncias reveladas no hospital.
Neste mês conhecemos um garotinho, o G., de 6 ou 7 anos de idade, que adora a Gal Costa. Sabe todas as músicas de cor. Fizemos um dueto: ele era a Gal, eu era a guitarra e cantamos juntos Meu Nome é Gal, uma de suas músicas prediletas, disputando para ver quem chegava no agudo mais agudo.
Tudo isso sob o olhar incrédulo do Chicô, que nunca tinha ouvido falar nessa música (ah, se você aí também nunca tiver ouvido falar nessa música, por favor, clique aqui).
Pode parecer um tanto egoísta, mas aprendemos nesse trabalho que o palhaço é um ótimo remédio para nós mesmos. Porque não sabemos quase tudo e porque a realidade pode se apresentar de maneira cruel e dura para todos nós.
E, se não podemos mudar a realidade, podemos mudar o jeito de lidar com ela.
Luciana Viacava (Dra Lola Brígida)
Instituto da Criança – São Paulo