No mês dos pais, mais precisamente no dia vinte do oito, eu, Dr. Mendonça, me tornei pai novamente. Agora sou Pai de três. Pudim, o mais velho, De Leite, o mais novo que agora foi alçado ao posto do “do meio”, pois chegou o mais novo integrante da família Mendonça, o…o…o…O… (deixarei você curioso até o final deste relato).
Cada paternidade é única, cada chegada é especial, cada serzinho que se apresenta mexe comigo de um jeito diferente. Pudim foi o responsável por me tornar pai, com ele experimentei esse sentimento nunca vivido. Aprendi que existe um amor maior que nós mesmos, um modo de cuidar que é enlouquecedor e reconfortante, uma pessoinha que vai te abrir os olhos para um lado da vida que você não sabia que existia.
De Leite, é o carinha que me tornou menos arrogante, pois com ele achei que já sabia das coisas, que era só repetir o que fazia com o Pudim que teria o mesmo “sucesso”. Mas o que eu não esperava é que eu não era mais o mesmo, a minha casa não era mais a mesma, meu tempo não era mais o mesmo. E por incrível que pareça, o De Leite não era igual ao Pudim!
Não é impressionante uma pessoa ser diferente da outra? Não é um absurdo? (Contém muita ironia). Por isso, esse rapazinho foi me quebrando a cada escolha distinta e foi me fazendo encontrar outros caminhos para exercer minha paternidade. Baixando minha pompa, e me colocando sempre à serviço do pensamento e do reajuste, para cuidar de acordo com o que o De Leite necessita.
O terceiro chegou na madrugada do dia 20 de agosto, meio no susto, uma cesárea às 1h45 da madrugada. Meus pais e minha irmã que acompanharam os outros partos in loco não conseguiram estar, só estava minha irmã presente, meus velhos estavam online numa transmissão ao vivo em uma telinha de celular.
Pudim, que havia acompanhado muito animado o nascimento do De Leite, até tentou ficar acordado, mas na hora mesmo estava roncando no sofá do hospital ao lado do De Leite, que também dormia.
Lembra daquilo que tinha comentado que cada um é cada um? Então, o terceiro já chegou diferente mesmo. Tão diferente, que na saída da barriga teve uma pequena dificuldade pra chorar, o que resultou numa nota 5 diante dos protocolos médicos, pensei: “puxou ao papai”.
Mas na sequência recebeu uma nota 9, já era melhor que o pai de longe. Coisa de médico que gosta de avaliar. O que importa isso? É que ele teve que ir direto para UTI da maternidade, e nós, eu e mamãe Mendonça, não pudemos abraçá-lo com calma e nem ficar com ele no quarto. Nada preocupante clinicamente falando, mas emocionalmente, muito ruim.
Tudo que um pai e uma mãe quer é pegar o pequeno que acabou de sair do forno e amassar, beijar, cheirar, e ficar junto. Mas dessa vez não foi possível.
Mendonça, por que está compartilhando isso? Porque toda vez que vivo uma experiência de hospital com os meus filhos, e essa não foi a primeira, eu penso no meu trabalho besteirológico na Doutores da Alegria. Outra vez, fiquei na UTI dez dias com o De Leite e também fiquei pensando muito sobre a besteirologia e a sua profundidade.
Penso sempre sobre o poder que um doutor palhaço tem de fazer companhia para os familiares que ali estão, com seus bens mais preciosos em um momento de dúvidas e incertezas. E que param para sorrir, chorar, distrair, reclamar, desabafar, cantar, ouvir uma besteira das mais sérias e tornar aquele momento um pouco mais leve, ou menos solitário.
O quanto eu queria que uma dupla de doutores palhaços bons tivessem me visitado nesses dias. O quanto eu queria ter cantado um ultrassom só para guiar os pensamentos para longe. O quanto queria ter podido chorar na presença de um besteirologista para desaguar a minha apreensão e minha ansiedade.
O quanto eu queria rir de um trocadilho, ou de uma piada, ou de um pensamento de palhaço que me colocasse em outro lugar durante aquelas longas horas que fiquei observando meu filho numa incubadora.
De verdade, a besteirologia profissional exercida por mim e pelos meus colegas, é dentro de mim cada dia mais forte. Cada dia que passo dentro de um hospital como acompanhante ou paciente, entendo mais o que fazer quanto entro em um quarto, em uma pediatria. E nesse dia, aprendi sobre a UTI Neonatal.
O terceiro, pra completar, o time vai se chamar Com Calda! Pudim de Leite com Calda, é o trio mais doce da minha vida. Os amo e só quero vê-los crescendo juntos e com muuuita saúde!