Lá estava ela, esticada sobre a cama, toda organizada, aguardando o seu momento de ser usada. Alvinho havia recebido alta médica e a primeira coisa que a gente viu, ao se aproximar do seu leito, foi a sua roupa que estava montadinha, só esperando o pequeno se encaixar – cairia como uma luva, ou melhor, como uma roupa mesmo. A gente perguntou se aquela roupa estava ali porque ele iria pra casa e Alvinho respondeu com uma alegria tímida, apenas confirmando com a cabeça.
Aquela imagem, aparentemente simples, comoveu a nós dois também por ressoar profundamente a memória da infância que carregamos. Nesse momento, um portal nos transportou para os recantos de nossa própria história, para os dias em que éramos guiados pela inocência e pela promessa de um futuro repleto de possibilidades. Dr. Lui e eu, Dra. Baju, saímos daquela enfermaria, compartilhando os rituais de quando éramos crianças – lembranças vivas e reanimadas por aquela cena.
A roupa de Alvinho, organizada em sua cama, não era apenas um conjunto de tecido, era uma manifestação da esperança e da determinação de se ver fora do ambiente hospitalar. A alegria tímida que vimos nos olhos dele parecia revelar a felicidade contida de quem, finalmente, voltaria para sua casa. A sua reação ecoou nas emoções que experimentamos ao relembrar nossos próprios momentos de retorno ao lar, seja depois de uma brincadeira na rua com os amigos, um dia na escola, ou, no caso de Alvinho, após enfrentar os desafios de uma jornada hospitalar. Era ali, na cama organizada, que estava a promessa de um recomeço, de um novo capítulo a ser escrito.
E, ao deixar o hospital, Alvinho se vestiu de renovação e a gente revisitou nossas próprias camas da infância, onde cada detalhe estava impregnado de muitos sonhos. Esse encontro com Alvinho nos faz lembrar que cada um de nós carrega a promessa de um recomeço em nossa própria história.
Dra. Baju (Juliana de Almeida) e Dr. Lui (Luciano Pontes)