Nascido depressa, num corredor branco e gelado, mal conseguia respirar. Com seu pulmão malformado precisou de força para nascer. Seu médico o ajudou, trazendo-lhe à vida e o seu nome para sobreviver: Pedro vem de pedra.
Hoje, é um homem forte, duro na queda que, com seu corpo em cima de uma cadeira de rodas, usa as pedras para trilhar o caminho que o espera.
Eis quem me esperava: o Peteco. Sim, Peteco vem de peteca e Pedro vem de pedra. Peteco surgiu como um desafio para mim, mas também como um caminho de oportunidades. Foi assim que cheguei em Doutores da Alegria, visando uma nova oportunidade de construir um novo caminho.
Morei em um hospital em Petrópolis, minha cidade, em uma incubadora por três meses. Então, fui com muito medo e receio de não conseguir realizar o trabalho. Para mim, o hospital sempre foi visto como um lugar difícil e doloroso.
Chegando ao Hospital Getulinho, me deparei com diversas surpresas. Um lugar acolhedor, generoso e respeitoso. A começar pelos meus colegas de trabalho, Totó e Matilde, Marquinhos e Letícia, que generosamente abriram espaço para que eu pudesse somar no trabalho, mostrando a minha arte sem julgamento, sem preconceito, abertos ao novo.
Sim, porque para eles e para mim, tudo era novidade. Da seleção ao hospital, tudo era novo. Eu acredito que eles nunca tinham trabalhado com um corpo PCD de forma tão direta.
O que é um corpo PCD? Pessoas com deficiência. Sim, esse é o termo correto. E não portador de deficiência ou pessoa com necessidades especiais. Até porque, todos nós temos algumas necessidades especiais, não é mesmo?
Para o Peteco chegar lá, o Pedro precisa chegar. Por isso, sempre levo um amigo para me acompanhar. Preciso de ajuda para me arrumar na cadeira de rodas, botar o jaleco, fazer a maquiagem e ajustar os meus pés que às vezes saem dos pedais da cadeira.
E Matilde e Totó estão sempre ali para me ajudar a me arrumar, a cantar e a rimar. Cada um entendendo a necessidade de cada um.
No dia a dia, para a Matilde chegar, a Letícia precisa fazer xixi, se maquiar, afinar o instrumento e se alongar. Vamos lá! Para o Totó chegar, o Marquinhos precisa chegar com seu shortinho curto, botar a maquiagem, pegar seu pandeiro e começar a tocar e esperar junto comigo a Matilde terminar de se arrumar… rsrsrs.
E assim começamos a trabalhar. Cada dia, um encontro diferente. Da mãe que vira galinha, ao pedido de foto, insistentemente. O que eu quero dizer com tudo isso é que cada dia, um dia; cada dia, uma necessidade diferente; cada dia, um corpo diferente; um encontro diferente.
Ninguém quer estar lá no hospital. Não é um lugar desejado ou procurado por ninguém. Mas é um lugar necessário para curar, não só dores físicas e emocionais.
O dia a dia com toda equipe me mostra que um hospital não é feito só de dor ou perda, mas também pode ser um lugar de encontro, de alegria e de acolhimento. Acho que essa é a base fundamental do trabalho de Doutores da Alegria.
Essa experiência me faz enxergar o hospital numa perspectiva que nunca pude imaginar. A força da pedra podia chegar.
Dr. Peteco (Pedro Fernandes), Dr. Totó (Marcos Camelo) e Dra. Matilde (Letícia Medella)