Carnaval já passou, eu sei, mas as palavras do poeta Antônio Maria, no Frevo nº 1, molharam nossas bocas num suspiro de gosto doce e suave. Estamos longe dos abraços, longe de quem amamos, longe da festividade e da folia, que era quando o Bloco do Miolinho Mole entrava nos hospitais levando as cores do carnaval.
Como esse ano não teve carnaval (oh, pandemia ingrata, vai embora logo pra gente festejar!), recolhemos o bloco e guardamos no estandarte da esperança a alegria estampada que compartilhamos no nosso trabalho.
Entramos na tela do computador e, assim, abrimos a passarela da imaginação. Faz de conta que estamos juntos. Sim, lá dentro de cada um de nós, basta tocar um trompete ou mesmo bater numa lata que lá está o carnaval.
O poeta segue seus versos: “…de que adianta se o Recife está longe e a saudade é tão grande que eu até me embaraço”.
Pela telinha, o brilho dos olhos das crianças traz as cores das brincadeiras, ao fundo o som de um frevo e, na vontade da diversão, nos vemos em meio à folia.
Um símbolo do carnaval, as máscaras, estas não podiam faltar! A fantasia era imaginar, mesmo que em casa, a alegria, fio condutor dessa festa. De camarote, no sofá, na pipoca, literalmente, vendo Netflix.
O Recife antigo estava triste, a Rua do Bom Jesus iluminando seu piso de pedras vazio. O Marco Zero dormindo. A ponte Duarte tinha um Coelho, mas não tinha o seu Galo. Ele não acordou. As ladeiras de Olinda só pela Misericórdia. Só subia gente para rezar na igreja de São Bento e para pedir a Preto Véio que passe logo essa pandemia, que a gente já tá de agonia.
Depois de comer a tapioca da Sé, como queimar as calorias? Se não tem frevo, ciranda, afoxé e maracatu? Só teve o coco da tapioca. Mas o que não faltou foi o chorinho, descendo ladeira abaixo. Ainda bem que dessa vez não foi o xixi dos foliões. No sonho de um futuro feliz, compus até um frevinho que a gente pode cantar assim:
“Voltei Recife
Foi a saúde que me trouxe pelo braço
Quero ver com urgência seringas na rua passando
Tomar umas e outras
Ser imunizado
Queremos frevo!
Queremos a vacina!
Voltar pro hospital
Crianças na escola, meu povo de pé
Quero sentir a embriaguez do frevo
Que entra na cabeça, depois toma o corpo e acaba no pé”