Hoje em dia está cada vez mais difícil ver reis por onde andamos. A realeza perdeu a monarquia desde que passamos para o presidencialismo, mas a nobreza é de berço: tem gente que nem precisa de coroa ou título para ser rei. Basta ser.
É o caso do pequeno Dudi. Ele reinava em um dos quartos do IMIP ao lado do seu pai e da sua mãe. Seu trono não era uma cadeira imponente, mas uma cama elegantemente forrada. No centro, Dudi era soberano.
Sem falar uma só palavra, tocamos para sua realeza se alegrar, como assim faziam os antigos bobos da corte. Ele olhou para um lado, depois para o outro, como se dissesse o que não se diz. E quase pensamos em sair de fininho, com medo do berro, mas Dudi nos surpreendeu e balançou o corpo, sentado para frente e para trás, acompanhando o ritmo do momento. Um olhar aliviado nos tranquilizou. Suas altezas, a mãe e o pai, ficaram encantados com a reação do rei, pois eles não sabiam que tinham no seu castelo os bobos da corte.
Para arrematar com um grand finale, Dudi retira sua coroa – um boné de frio – como se agradecesse. E ainda bate palmas! Saímos dali orgulhosos do que somos, afinal nem todo bobo tem o rei que merece. E aquele dia fez uma sequência de ritmados encontros bailantes, até que o rei trocou de quarto real e passou a ocupar um reservado no alto da torre: uma enfermaria da UTI.
Lá, Dudi já não reagia como antes e só olhava como quem diz um adeus aos poucos. Soubemos em um dia inesperado que o rei tinha partido para outro reinado, além das fronteiras da imaginação. Não teve bilhete, nem aceno, nem um boato fofocado. Soubemos porque procuramos saber das coisas amadas e, diante da notícia, ficou a lembrança do primeiro grande encontro.
Ele disse tudo naquele encontro real. Agradecemos a Dudi por não ter nos avisado, pois para todo bobo nem tudo se revela. E agora sabemos que existem reis de verdade. Somos da sua realeza e por eles vale muito a pena ser o bobo. Eis a corte.