Quem trabalha nos andares onde nós, besteirologistas, passamos, já deve ter percebido que ficamos ali alguns minutos conversando com as profissionais e os profissionais do andar, não é mesmo?
Não! Não estamos fazendo fofoca (às vezes, uma coisa ou outra escapa, não posso negar)!.
Não! Não estamos enrolando no trabalho (às vezes, uma tentativa de cochilinho pode rolar, mas logo sou advertida)!
Na verdade, na verdade, essa “troca de ideias” é de extrema importância para o trabalho que iniciaremos logo em seguida! É verdade!
Ali, naquela conversa, a gente fica sabendo com quem podemos falar no dia, qual criança está internada, o que aconteceu, se está de jejum, se operou, se pode rir e por aí vai…
E, neste último mês, algumas profissionais têm nos pedido para ajudar nos procedimentos que elas precisam realizar.
Quer exemplos? Deixa comigo!
Na UTI, chegamos na hora da fisioterapia do Davi. A fisio nos olhou e falou:
– Oba! Hoje a sua ginástica vai ser com música!
E lá fomos nós fazer uma música exclusiva para a ginástica do Davi. Conforme íamos cantando, com ajuda da fisio, o garoto ia mexendo a parte do corpo indicada na canção.
Ainda na UTI, outro dia conhecemos Thiago, um garoto de 12 anos que estava sem movimentar o lado direito do corpo e tinha a fala um pouco prejudicada.
– Tentem fazer ele falar?!, nos pediram.
No meio do atendimento, fomos entendendo qual era o caminho que poderíamos seguir. Puxa daqui, vai para lá, tenta uma piada daqui, arrisca outra acolá, até que um tímido “tá” saiu do menino.
Isso já foi o suficiente para que o pai do garoto saísse atrás da gente, agradecesse, e nos contasse outros relatos do garoto junto à equipe, que pediu para continuarmos o nosso trabalho de falação de “Tá tá tá”.
Na enfermaria também rolou algo muito legal: estávamos no quarto de Carlos Miguel, um garoto que já conhecíamos há algum tempo. Tínhamos uma brincadeira com ele de ficar chamando um ao outro de rato, carinhosamente (coisa nossa, hehe). Sempre entrávamos no quarto dele e lá tínhamos que cantar a música do rato que fizemos com ele.
Pois bem: certo dia, no meio da canção, entra uma equipe médica e começa a fazer os procedimentos no garoto. Estavam tirando sua sonda. Nós nos afastamos e fizemos menção de sair do quarto, mas o garoto pediu licença para a médica e disse que queria nos ver. Nós então aguardamos o procedimento ali, do ladinho dele. Quando achávamos que eles já tivessem acabado, lá foi a doutora começar a examinar outra coisa no menino. Percebemos que não era mais para estarmos ali e resolvemos sair.
O garoto, por sua vez, não satisfeito com a situação, começou a “protestar”: ele não fazia os movimentos solicitados pela médica. Ela então diz para Carlos Miguel:
– Sabia que eles fazem parte da minha equipe?, apontando para nós. E vão fazer uma música que faz esticar a sua perna, quer ouvir?
Neste momento, a equipe toda se virou para nós e lá começamos a fazer a tal música. Conforme a médica ia solicitando o movimento de alguma parte do corpo, nós íamos inserindo a música e o garoto por sua vez foi fazendo tudo o que era solicitado.
Ao final, a médica nos agradeceu e saiu.
Fiquei pensando: às vezes têm momentos e coisas nos quais só cabem a besteirologia, né?
No mais, “tamo junto time”! Contem conosco para o que der e vier!
Agradeço o carinho e cuidado com o nosso trabalho.
Beijos,
Gabi Zanola (Dra. Pamplona)