A vida de fora se mistura com a vida de dentro e a vida de dentro se mistura com a vida de fora.
Essa frase pode soar cheia de outros sentidos e atrapalhar o entendimento, mas o que queremos dizer é que, nessa época do mês de junho, o fogo acende a lenha dos corações e os tetos do hospital se enfeitam de bandeirinhas multicoloridas, se misturando com as danças, comidas e canções. E, assim, vamos trazendo para dentro do hospital o que está fora dele ou o que pensamos estar fora porque, no fundo, tudo está dentro, inteiro e completo como o gosto do milho e das palhaçadas.
Como é de costume e da tradição junina, mês passado percorremos os hospitais parceiros fazendo nosso cortejo do São Joãozinho para embalar a vida de dentro do hospital. As surpresas são sempre bem vindas, como os casamentos desistidos. As quadrilhas improvisadas, as roupas cheias de babados com xadrez e flores colorem os pacientes. O arraial se monta fora das enfermarias e a vida não tem o amargoso do remédio, tem gosto do milho assado e do cozido, do pé de moleque.
E enquanto a palha não assa, vamos fazendo graça com o que temos de melhor, sempre! E, dessa vez, até Santo Antônio apareceu! Dr Eu_Zébio veio a caráter, para sorte das solteiras e das encalhadas de plantão! Os pedidos foram feitos e desfeitos até os festejos acabarem, mas desejo é desejo e a vida vira queijo com remelexo. Tá tudo no balão, nas mãos de São João!
No Hospital Barão de Lucena, no Recife, o menino R. invadiu o forró, pulou, dançou e bateu palma no ritmo da música. Corria pra um lado, corria pro outro, parava, olhava e soltava beijo. A noiva, a besteirologista Mary En, ficou animada pensando que o garoto poderia ser o noivo da festa. Mas o garoto disse “não” com a cabeça. Então a caça ao noivo continuou.
Para o lamento da noiva, todos os médicos estavam casados, namorando ou com tico-tico no fubá. E agora? Um boato correu solto que as “mães do canguru” estavam pra chegar ao arrasta pé (mãe canguru: tipo de assistência neonatal que implica em contato pele a pele entre a mãe e o precoce recém nascido). E o escolhido foi o G., com apenas 1 ano. Eita, mas a Mary En já tá crescida para se casar com o bebê! Resultado: tivemos a brilhante ideia de congelar a dra. Mary En e esperar o G. crescer.
A zabumba foi sumindo, o triângulo foi baixando, a poeira foi assentando. As crianças olhavam todas atentas da porta do salão. É engano meu ou nós, besteirologistas, estamos indo embora? É isso mesmo, chegou a hora da despedida. Mas despedida é algo que está no nosso caderno de lição da Besteirologia. Vamos sentir saudade, mas como disse uma paciente nossa em um momento de pura poesia: “Saudade é amor que fica!”.
Eita, sô! E num é que ficou!
Dra. Tan Tan (Tamara Lima)
Dra Baju (Juliana de Almeida)