Muitas histórias já aconteceram neste primeiro mês de trabalho em 2022 no Hospital do Campo Limpo, ou melhor, no “Hospital do Clean Field”. No primeiro dia, conhecemos uma menina fofa chamada Stela. Ela estava bastante fragilizada, deitada em sua cama, com um corte na cabeça. Fizemos amizade, mas em determinado momento, Stela falou que Valdisney era feio.
Dr. Valdisney nem deu bola para isso, mas a mãe da menina ficou muito desconcertada com a sinceridade da filha. No outro dia, logo que chegamos ao hospital, Stela já estava bem mais forte e animada e, quando nos viu, veio correndo pelo corredor em nossa direção. Nós nos abaixamos para falar com ela que, com todo carinho, pediu desculpas ao Valdisney. Então ela nos levou até o seu quarto para nos mostrar seus brinquedos e contou que tinha sonhado conosco naquela noite.
No sonho, ela estava na frente de uma fogueira. Valdisney e eu éramos bebês e estávamos deitados em seus braços. Achei tão linda a imagem! Dizem que os sonhos têm muitos símbolos e significados e esse deve estar cheio deles. Pena que eu não saiba interpretá-los! Mas posso dizer que senti o calor daquele abraço na fogueira e que meu coração está aquecido até hoje.
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Na pediatria, encontramos uma menina grande e comprida chamada Talita. Em nosso primeiro encontro, ela estava com o pai e nós ficamos tentando entender como é que uma moça daquele tamanho tinha ido parar na pediatria. Será que ela era médica? Fisioterapeuta? Enfermeira? Fomos embora sem descobrir o enigma!
Na visita seguinte, encontramos o pai da menina chorando muito no corredor da UTI e ficamos sabendo que nossa amiga estava em estado grave no isolamento da UTI. Ela faria 15 anos no sábado e os pais já tinham arrumado uma linda festa. Toda a equipe da UTI estava muito preocupada e o clima era tenso e muito triste. Ficamos na dúvida se deveríamos entrar ou não na UTI e acabamos entrando bem devagar e o mais discretamente possível.
Encontramos uma enfermeira que nos disse que nossa presença ali era muito importante naquele momento, principalmente por causa das mães das outras crianças. Segundo ela, em momentos como esse, as mães (e pais, claro) vivem um mix de sensações, como tristeza, alívio, culpa, medo, e precisam de uma boa dose de besteirologia para se manterem saudáveis. Besteirologia é ciência! Pode acreditar!
Depois desse dia, voltamos muitas vezes à UTI e nossa amiga continuava em estado grave e isolada. Até que um dia, ela saiu do isolamento, mas estava dormindo quando fomos visitá-la. E qual não foi nossa surpresa quando, em nosso encontro seguinte, demos de cara com ela, acordada, sentada na cama, comendo comida de verdade! Que alegria! Ela tinha feito 15 anos na UTI, mas ainda faltava a festa. Na mesma hora, preparamos o baile de debutantes, com direito a valsa e tudo. Ela dançou com os olhos e sorriu! E toda a UTI sorriu com ela.
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A besteirologia não para de evoluir. Desenvolvemos um método muito eficaz para fazer os bebês dormirem. Ao som dos três únicos acordes que sei tocar no ukulelê e com a voz de travesseiro do Dr. Valdisney, o método é tiro e queda. É só começar que os bebês zzzzzzzzz… É uma canção com a letra muito simples, vou ensinar aqui para ninguém dizer que estamos regulando informação:
“Tutururututu
De trás do Murundu
O pato, o marreco,
A galinha e o peru.”
Pegou? Muitas mães quiseram nos contratar para passar a noite de plantão nos quartos. Mas tivemos que recusar, pois nesse horário estamos sempre muito ocupados dando plantão em nossos colchões. Por isso, fizemos questão de que as mães e toda a equipe aprendessem a cantar a música com direito à participação especial no vocal animal.
“Tutururututu
De trás do Murundu,
O pato QUÁ QUÁ
O marreco QUÉ QUÉ
A galinha CÓ CÓ
E o peru GLU GLU GLU GLU”
Foi sucesso! Cada uma soltando os bichos à sua maneira e os bebês dormindo. Um excelente método de relaxamento.
Bom, pessoal! Estamos por aqui! Se precisarem de nós, o telefone do Valdisney é um Nokia. É só ligar.
Beijos mil e até já já!
Luciana Viacava (Dra. Lola Brígida)