Pensa em uma palavrinha difícil de se colocar em prática: DESAPEGO.
Quando um de nossos pequenos pacientes tem alta e vai embora, deixa as boas lembranças dos encontros. Do que brincamos, dos risos trocados. Mas tem partidas que são definitivas e, às vezes, percebemos que nem sempre estamos tão preparados como pensamos, mesmo que seja uma partida previamente sinalizada.
Os sinais, diga-se de passagem, surgem o tempo todo, basta prestar atenção. Há mais ou menos três meses, o pequeno D. começou a dar os primeiros sinais da sua despedida. Sincero e autêntico, como sempre, D. expressava seus interesses e emoções através das suas famosas piscadinhas: uma para “não” e duas para “sim”.
Outras vezes, bastava uma cara bem enjoada para percebermos que a música não estava agradando naquele dia. Noutra ocasião, perguntamos se ele gostaria de se casar comigo, Dra Baju. Duas piscadinhas! Ai, meu coração! Aí, já perguntei se o Dr. Micolino poderia ser o nosso padrinho: duas piscadinhas! Micolino ficou tão empolgado que perguntou se D. o achava bonito: uma piscadinha… É, forçou a barra.
Foi com essa mesma franqueza que D. começou a pedir mais reserva, mais recolhimento. Queria ficar quietinho, com um paninho em seu rosto. Nada mais justo e honesto da parte dele. A equipe carinhosa cuidou muito bem disso e foi aí que todos nós começamos a nos preparar – ele estava indo.
O desapego está ao nosso alcance se deixarmos que ele nos alcance. Na escrita isso deve ficar bem bonito, mas contrário ao que acontece na “vida real”. Mas a existência é exatamente assim: bonita. A gente, aqui na Terra, não entende nada. Acho que, nessas horas, é melhor sentir que pensar.
Eu tô muito feliz por tê-lo conhecido desde seus dois anos de idade. Micolino o conheceu ainda menor. Estamos felizes pelos encontros! O nosso mestre nasceu, nos ensinou e se especializou na grandiosidade que é essa vida.
Dr. Micolino e Dra Baju
Hospital Barão de Lucena – Recife