Pela primeira vez ao longo de 30 anos, Doutores da Alegria precisou interromper seu trabalho presencial nos hospitais. Com a vacinação, a retomada da atuação nas unidades de saúde reafirma a importância da arte e a potência dos encontros
O ano de 2022 começa com a incerteza provocada pela ômicron, variante do coronavírus que se espalha rapidamente pelo país, mas com a expectativa de que o seu impacto seja reduzido pela eficácia da vacina. Foram justamente a confiança na ciência, na importância do ciclo vacinal completo, nos protocolos de segurança indicados pela Organização Mundial de Saúde e o relacionamento com os hospitais parceiros da associação Doutores da Alegria que permitiram a volta dos palhaços às intervenções presenciais nas unidades de saúde em 2021.
“Retomar as intervenções artísticas foi um processo de diálogo longo e constante com gestores, médicos, enfermeiros, profissionais que trabalham na área de humanização, até que pudéssemos estabelecer os protocolos e entender as especificidades de cada hospital”, explica Ronaldo Aguiar, diretor artístico dos Doutores da Alegria.
Pela primeira vez, ao longo de quase 30 anos de atuação (em 2020, Doutores da Alegria completou 29 anos), os artistas que visitavam 12 hospitais regularmente em São Paulo e no Recife precisaram suspender as atividades no dia 17 de março de 2020 por conta da pandemia de covid-19. O projeto Plateias Hospitalares, que promove apresentações culturais em sete hospitais no Rio de Janeiro, também foi interrompido.
Enquanto tudo estava fechado, a associação Doutores da Alegria se reinventou. De suas próprias casas, os palhaços produziram vídeos que foram para as redes sociais e para os grupos de mensagens dos hospitais. No período de 10 de abril de 2020 a 20 de dezembro do mesmo ano, mais de 1.300 vídeos foram produzidos.
Já as intervenções dos palhaços nos hospitais foram retomadas paulatinamente de maneira virtual a partir do dia 19 de maio de 2020 com a ajuda da tecnologia: um profissional indicado pela unidade de saúde levava os tablets a cada leito para que o encontro entre palhaço e criança pudesse acontecer, mesmo com os artistas trabalhando cada um de suas casas.
Como Doutores da Alegria nunca tinha atendido no formato on-line, o projeto Plantão Besteirológico começou em caráter de experiência no Hospital Municipal M’boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch, em São Paulo. “Tivemos um apoio grande do Dr. Flavio Mitio Takahagui no hospital M’boi, que generosamente fez várias reuniões e palestras nos colocando a par da realidade hospitalar durante a pandemia”, conta David Taiyu, coordenador artístico da unidade São Paulo dos Doutores da Alegria.
A volta presencial aos hospitais começou no dia 7 de julho de 2021 quando Suzana Aragão, mais conhecida nos hospitais como Dra. Tutty Bolot´s, completou o ciclo de vacinação, graças a uma pesquisa de vacinas no Hospital das Clínicas. O mês de novembro marcou a retomada completa das intervenções presenciais nos hospitais, com todo o elenco imunizado. No Rio de Janeiro, o projeto Plateias Hospitalares também voltou às unidades de saúde com apresentações especiais.
“Discutimos bastante como se dariam as relações e os encontros nos hospitais, qual o distanciamento seguro e como seria, para os palhaços, usar máscara”, relata Arilson Lopes, coordenador artístico da unidade Recife dos Doutores da Alegria. Se os palhaços já usam a “menor máscara do mundo”, o nariz, agora teriam que se adaptar às máscaras de proteção que cobrem nariz e boca.
Com o novo protocolo de segurança, o nariz de palhaço é colocado por cima da máscara: “Pode parecer um detalhe, mas nosso trabalho é baseado na potência do encontro e usar a máscara nos trouxe reaprendizados na comunicação”, complementa o coordenador. O olhar, por exemplo, ficou ainda mais ativo e presente.
Os artistas do elenco contaram os dias até que a volta segura aos hospitais fosse possível. E, apesar das mudanças e da ansiedade, o reencontro com as crianças, os acompanhantes e profissionais de saúde reafirmou a importância do trabalho dos Doutores da Alegria. “As crianças passam o dia ociosas, angustiadas, querendo ir para casa. Nada melhor do que uma visita dos palhaços! É perceptível a alegria das crianças”, atesta o pediatra Niedjan Carvalho, que atua no Hospital Barão de Lucena, no Recife.
“Foram tempos de muita dificuldade, mas também de um crescimento enorme como organização. A volta aos hospitais, esse lugar que é um desafio, onde lidamos com as circunstâncias mais adversas, reafirma a importância da arte. É lá que está nosso público, que tem direito aos encontros potentes que a arte pode proporcionar”, avalia Luis Vieira da Rocha, diretor presidente da associação Doutores da Alegria.
Ao longo dos próximos dias, vamos postar uma série de conteúdos que intitulamos “De volta ao hospital” e tem como objetivo registrar como a associação Doutores da Alegria retomou suas atividades nos hospitais públicos depois da inédita interrupção dos trabalhos no ano de 2020.
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