Às vezes queria ver, tocar e acariciar o tempo. Essa bola flutuante no espaço chamada planeta Terra parece que está girando mais rápido…
Trabalhei no Hospital da Restauração em 2012. Agora, três anos depois, volto a fazer visitas na companhia do Dr. Eu_zébio.
De lá pra cá, muita coisa aconteceu. Vi o tempo passar nos vigilantes, nas batas dos médicos, nos sapatos dos técnicos, na brinquedoteca, no olhar da copeira, na voz que sai do elevador indicando o andar. E para completar, tem muito celular, que os pacientes teimam em ligar, achando assim que vão nos mirar. Não sabem eles que estão deixando pra depois o nosso singelo olhar, isso teimei pra acreditar!
Ah, as pessoas passam, vão e vem! O tempo as faz caminhar. Umas foram pra casa, outras mudaram de estado, umas viraram borboleta. Outras ficaram aqui, mas o tempo também ficou com elas.
Vi o tempo em mim também. Estou de barba e já apareceu um fio de cabelo branco. Minhas roupas também encolheram. É que fui crescendo, crescendo e quando vi… Já o Dr. Eu, nem sequer um fio apareceu na sua cabeça. Ah, mas sua careca tá mais iluminada!
A pequena E., criança que conhecemos desde que tinha 2 anos, hoje está com cinco. Muita coisa mudou na vida dela. Ela agora está falando e virou chefe da “gangue da UTI”. Também mudou de leito. Está mais próxima da janela, e de lá observa toda a avenida, cheia de pessoas apressadas. É que vivem sem tempo. A E. também ganhou um carrão e uma motorista particular – uma cadeira de rodas que serve pra sua locomoção pelo hospital.
Seu cabelo está maior, seus dentes de leite tomaram toda a boca. Também ganhou um senso muito bom pra moda! Vive falando que as roupas do Dr. Eu estão folgadas. Também não gosta que ninguém chore perto dela, logo sai da sua boca o comando:
– Engole o choro!
Por sinal, nunca vi uma lágrima dela. Revelou pra gente que está de namorico com dois pacientes da UTI do Hospital da Restauração, mas que eles ainda não sabem… E eu, Dr. Marmelo, continuo encalhado buscando um amor que faça marmelada e dance uma boa lambada!
E se a gente atrasa, perde o tempo de vista, a pequena E. reclama:
– Onde vocês estavam?
Com o tempo ela foi aprendendo os dias de nossa visita, que são todas as segundas e quartas-feiras do mês. Bom, querida E., o tempo passa pra todos nós e com ele vem nossas mudanças… Olhando hoje para o hospital, você, eu (Marmelo) e Dr. Eu, me vem à cabeça um poema de um grande escritor português, Fernando Pessoa:
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos,
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos.”
Dr. Marmelo (Marcelo Oliveira)
Hospital da Restauração – Recife