Ele é daqueles meninos que a gente bate o olho e sabe que é especial. É feito algodão doce, suave e fofinho, daqueles de conversa boa e mansa.
Tem aproximadamente 11 anos, mas com a seriedade de um adulto, que parece que já passou por tantas coisas e optou por olhar os outros com afeto e leveza. No primeiro encontro nos deu um abraço apertado, e no fim do dia nos procurou para dizer que acha muito bonito o nosso trabalho.
Agradecemos, ficamos surpresos. Não pela frase em si, mas por esta frase ter vindo de uma criança. E de abraços e brincadeiras seguiram nossos encontros. Até um dia em que eu, Svenza, e o Dr. Marmelo soubemos que o menino receberia alta. Foi ele mesmo que deu a notícia – e saiu de cabeça baixa.
– Por que está triste?, perguntamos.
– Tô triste porque vou sentir saudade de vocês, respondeu ele com voz de algodão doce.
E debruçado numa janela, suas lágrimas escorriam nas suas bochechas. Marmelo ainda tentou consolá-lo, dizendo que ele podia ver a gente quando quisesse na internet. O menino disse que não podia não, pois seu pai não deixava sua mãe ter internet.
Paramos. Nesse momento também nos debruçamos na janela. Despencamos. Silêncio.
Uma luz forte de dia iluminava nossos rostos e penetrava nossa alma. Pensei em como ele mais velho se lembraria da gente (e “se” lembraria). Tentei organizar na minha cabeça palavras que dissessem sobre como foi bom E. ter estado naquele hospital, naqueles encontros. Achei que seria justo que ele soubesse da sua importância no meu mundo, nesse mundo. Mas os pensamentos vinham acelerados e escolhi ficar calada. Daqueles momentos em que nenhuma palavra substitui a presença.
Ficamos ali, os três, sabendo da importância um do outro. Senti alegria por ele nos levar onde quer que vá. Devíamos ter trocado endereço, queria lhe mandar cartas! Fiquei curiosa por saber se aquele menino irá se transformar em homem ou foi apenas um sonho para nos trazer leveza nesses dias conturbados, esquisitos e desumanos.