Saiu a edição 2021 da Revista Boca Larga! Os colaboradores da associação Doutores da Alegria escreveram sobre utopias neste novo número que tem como tema uma provocação: “E, se…?”.
A realização é da Secretaria Estadual de Cultura e Ministério do Turismo.
Leia o editorial da revista, escrito por Lourdes Atié, diretora de Formação dos Doutores da Alegria:
Quando terminou 2020, tínhamos esperança de que 2021 fosse um tempo de retomada à vida que havia sido confiscada e nos colocou na clausura, tentando fazer o tal home office, confirmando a cada dia que home não é office. Porém, nós fizemos parte do grupo dos privilegiados, diante da multidão de trabalhadores que não puderam fazer teletrabalho e seguiram trabalhando presencialmente, mesmo em tempos pandêmicos.
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Não se trata aqui de dizer quem teve mais sorte ou mais privilégios, diante do pandemônio em que o Brasil se encontra. Nosso desafio é pensar que, diante de tantos lutos de diversas naturezas trazidos pelo novo coronavírus, o que conseguimos sonhar para além do que vivemos? Ainda temos força para isso?
A pandemia ainda não passou e não temos a dimensão do quanto ela nos afetou. Mudamos muitos hábitos e formos obrigados a fazer muitas coisas pela primeira vez. O que aprendemos com tudo que vivemos? Como sair da melancolia que nos encontramos para seguir construindo utopias?
Constato que, neste final de ano, as pessoas estão com pressa de terem “suas vidas de volta”. A vida que querem é a que já começamos a viver: aeroportos lotados, comércio retomando suas atividades, restaurantes com lista de espera, trânsito paulistano de volta ao caos. Uma visão saudosista que, de alguma forma, dissimula o que tínhamos – a vida que levávamos antes da pandemia também não era boa. Acelerada demais, competitiva demais, consumista, individualista e violentamente desigual.
Não estou querendo piorar o cenário melancólico, mas apenas lembrando que o tempo não volta (que bom!) e se tentarmos voltar ao passado teremos perdido uma grande oportunidade de transformação.
Sabíamos que já estávamos vivendo a “modernidade líquida”, num “interregno entre o que deixou de ser e o que ainda não é”, como bem indicou o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. O que seremos capazes de fazer com tudo que vivemos é o nosso maior desafio.
Quando a organização Doutores da Alegria, neste ano em que completa 30 anos, escolhe coletivamente o tema anual para nossa publicação Boca Larga E, SE…?, me provoca a pensar que, como privilegiados que somos, pois não morremos, não perdemos nossos empregos, estamos com saúde e trabalhamos com a arte entendida como um direito, um mínimo social, portanto como um ato de resistência, precisamos construir utopias!
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O palhaço quando encontra a criança no hospital, em poucos minutos muda tudo, mesmo em um ambiente de estresse. Um encontro único, que não se repete e que faz disso um tempo de respiro pelo lúdico, que é libertador.
Mas não apenas nos hospitais. As pessoas quando estão numa ação formativa da organização também tem a oportunidade de viver uma experiência única sobre a vida que faz sentido. Pela arte, elas têm a oportunidade de refletirem como ser lúdico no lúcido.
Nosso trabalho é uma oportunidade única de reconhecer que temos nas mãos as ferramentas para transformar tempos difíceis em utopias pela arte, pelo lúdico e pelo educativo, sendo uma oportunidade de fluir a vida, pois ela não é útil, como pontua Ailton Krenak.
Não sabemos para onde caminhamos, também não temos a dimensão do quanto e como fomos afetados por tudo que vivemos. Porém, pelo trabalho que desenvolvemos temos a oportunidade de sairmos da melancolia para utopia, construindo percursos que tenham a arte como base e que possam influenciar a educação e a saúde, para a construção de uma vida com sentido. Para isso, será necessário focarmos naquilo que nos une e que é essencial numa construção coletiva atenta para as demandas da vida e que fortaleça nossa relevância social. Como? Não tenho a receita, mas se fizermos juntos, conseguiremos.
Por isso, o tema deste ano do Boca Larga é E, SE…? Por meio desta indagação convidamos todos os colaboradores a construir utopias e aqui está o resultado, textos de gêneros diversos que traduzem nossos sonhos. Agradeço muitíssimo a todos e todas que trouxeram seus sonhos para esta edição. Também agradeço aqueles que não enviaram seus textos. Tenho certeza que gostariam de estar aqui também.
Como sou carioca de Vila Isabel, terra de Noel Rosa e Martinho da Vila entre outros sambistas importantes, acho oportuno lembrar a música do Martinho, que sempre me inspirou em momentos difíceis e que me agarro nela mais uma vez:
Canta, canta, minha gente.
Deixa a tristeza pra lá.
Canta forte, canta alto,
Que a vida vai melhorar.
Que a vida vai melhorar.
Que a vida vai melhorar.
Mas a vida vai melhorar.
A vida vai melhorar.
A vida vai melhorar! Vamos construir juntos os cenários que sonhamos. Que venha 2022!
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