Acordamos todos os dias para fazer a mesma coisa nos hospitais: encontrar pessoas.
A mesma coisa, mas todo dia de um jeito diferente. Encontramos pessoas, ainda sem maquiagem de palhaço, nas escadas e nas recepções. Depois, devidamente paramentados, nos corredores, leitos pediátricos e enfermarias. Ainda mais: nas poltronas ao lado dos leitos, nas bancadas da Enfermagem, por trás dos carrinhos de limpeza.
No dicionário, ‘encontro’ pode ser ‘juntar-se no mesmo ponto’. Mas também ‘disputar, lutar, opor-se’. Como é que a mesma palavra pode ter significados distintos?
O objetivo do palhaço, no trabalho dos Doutores da Alegria, é estabelecer encontros potentes com as crianças; encontros que perpetuem a alegria e que possam trazer benefícios para a saúde.
Ao abrirmos a porta de um quarto inventamos relações, alcançamos o imaginário, fabulamos. Podemos ser o médico besteirologista pronto para um check-up de miolo mole, mas também podemos ser o que a criança quiser. E podemos, inclusive, levar um ‘não’ e ter de fechar a porta. Ao passar pelo corredor, podemos brincar com a enfermeira e sua bandeja de agulhas fritas, dar sinal para pegar uma carona na cadeira de rodas e também podemos nos despedir de um grande amigo que teve alta.
Encontros planejados, ritmados ou encontros casuais, fugazes.
Veja: um encontro pode significar juntar-se no mesmo ponto (a visita regular do palhaço), mas também pode ser uma oposição (um ‘não’, uma despedida). E esses encontros são sempre diferentes, porque para estabelecer relações não é possível reproduzir, por mais que o palhaço tenha gracejos prontos em seu repertório.
É preciso produzir, criar, estar aberto para o que vem do outro – e nesse sentido, o fazer artístico pode ajudar. É dessa criação conjunta e ativa que surge a alegria, a potência de vida. E tudo começa como todo dia… Com um encontro.