Quando se trata de Natal nos hospitais, Doutores da Alegria tem uma longa tradição, aguardada por todos – pacientes, acompanhantes e profissionais de saúde.
Após um hiato de dois anos, causado pela pandemia, os palhaços da associação e os artistas selecionados para o Plateias Hospitalares retornaram com a celebração de Natal nos hospitais parceiros. Não importa o formato, se é cortejo, ou um espetáculo, o que importa é perceber as transformações e histórias emocionantes causadas pela passagem dos artistas nos corredores.
Cortejo natalino em São Paulo
Em São Paulo, as crianças ficaram animadas quando perceberam que a visita dos palhaços estava diferente. Ao invés da dupla de besteirologistas que vai ao hospital duas vezes por semana, seis palhaços percorreram as alas pediátricas com figurino, música e brincadeiras especiais.
“Muitas crianças passam o Natal internadas, então é importante que estejamos aqui brincando e celebrando com elas. 2022 foi mais um ano desafiador para Doutores da Alegria, mantivemos o nosso trabalho nos hospitais com todos os cuidados que ainda são necessários, e retomamos o cortejo natalino nesse formato depois de dois anos. É um momento especial de renovação”, comenta Henrique Rímoli, coordenador artístico da unidade São Paulo.
Desde o último dia 7, o cortejo passou pelo Hospital Santa Marcelina, Hospital Municipal M’boi Mirim – Dr. Moysés Deutsch, Hospital do Mandaqui, Hospital do Campo Limpo e Hospital Universitário da Faculdade de Medicina da USP. No Hospital Geral do Grajaú, no Instituto da Criança do Hospital das Clínicas e no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci), as duplas de palhaços que já atendem no hospital fizeram uma visita temática.
Auto de Natal no Recife
No corredor do 4º andar do Hospital da Restauração, o maior hospital público de Pernambuco, Reginaldo Pereira Mendonça, de 60 anos, empurra a cadeira de rodas do filho.
Samuel Pedro Ferreira Mendonça, de 6 anos, saiu de casa no último dia 3 de dezembro, no bairro de San Martin, Zona Oeste da cidade, para comprar refrigerante. Ao atravessar a rua, foi atropelado.
Desde que Samuel deu entrada no HR, a história da família dele se cruzou com a história dos Doutores da Alegria no Recife. A criança é atendida duas vezes por semana por Dr. Marmelo e Dr. Micolino, besteirologistas que fingem que são médicos e se metem nas maiores confusões na pediatria do hospital.
No último dia 14 de dezembro, o pai posicionou cuidadosamente a cadeira do filho no vão que fica entre o posto de enfermagem e os elevadores. Dali a poucos instantes, aquele espaço se transformaria em palco de teatro.
Samuel e outras crianças internadas no HR acompanharam com olhares curiosos, risadas e palmas o espetáculo Auto de Natal, dos Doutores da Alegria, que não era apresentado presencialmente desde 2019. “Ele conheceu logo! Quem vem aqui é o burrinho e o rei magro”, comentou seu Reginaldo.
A peça conta a história tradicional do nascimento do menino Jesus, mas pelo olhar transgressor e irreverente do palhaço. No elenco, 12 besteirologistas que atuam no Recife e um convidado especial, o sanfoneiro Dudu do Acordeon.
O espetáculo foi apresentado desde o último dia 12 nos cinco hospitais atendidos pelos palhaços na capital pernambucana: Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), Hospital Universitário Oswaldo Cruz, Procape, Hospital da Restauração e Hospital Barão de Lucena. Na sexta, dia 16, a peça foi vista por 300 alunos da Escola Municipal de Tempo Integral Nossa Senhora do Pilar, Escola Municipal Edite Braga, Escola Municipal Soldado José Antônio e por idosos de organizações sociais no Teatro do Parque, no bairro da Boa Vista.
“Se não fosse vocês aqui, a gente jamais esqueceria da dor, não só a dor de ver os nossos filhos doentes, mas também a dor dos outros que estão aqui. E aí com vocês chega o momento de ter alegria”, conta o pai de Samuel, emocionado com a peça.
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Rio de Janeiro – Plateias Hospitalares
Os hospitais parceiros receberam o cortejo natalino Hohoho com Hahaha da Cia Sapato Velho, onde um casal de palhaços e um músico cantam paródias de músicas natalinas e narram curiosidades sobre as origens das festas e tradições. A brincadeira com os artistas chega como um acalanto, que ajuda a trazer leveza e novas possibilidades de ressignificar a internação, de modo que as pessoas consigam ter alguma memória feliz daquilo que estão passando.
Segundo Silvia Contar, coordenadora da unidade Rio, “além da experiência da arte e da alegria, procuramos transmitir delicadeza em todas as todas as apresentações do Plateias Hospitalares, mas sinto que no Natal o cuidado deve ser redobrado, por ser uma época em que as pessoas gostariam de estar reunidas em família e não internadas.”
O cortejo teve início no dia 6 de dezembro no Hospital Estadual Azevedo Lima, passou pelos seis hospitais parceiros, encerrando no dia 19 no Hospital Estadual Alberto Torres.