Não diga a pacientes com câncer o que eles deveriam estar fazendo para se curar.
Essa foi a ideia desenvolvida pelo jornalista Steven Thrasher em seu artigo desta semana no jornal britânico The Guardian. A partir de experiências pessoais, em sua família e com amigos, ele fala sobre conselhos e recomendações pseudocientíficas que as pessoas recebiam durante o tratamento.
“Ela não sabia que se tomasse suco de limão todos os dias poderia acabar com as células cancerígenas? Que se assistisse ao documentário O milagre de Gerson ficaria bem? Que se estivesse disposta a tomar vitaminas, ou comer comida crua, ou fazer ioga, ou olhar para o lado positivo das coisas sua doença iria embora?”
Thrasher acredita que esses conselhos, “curas simplistas, não comprovadas ou fantásticas”, são um ato de violência. Os procedimentos médicos modernos é que realmente contribuem com o tratamento do câncer. Ao recomendar o que uma pessoa com doente deve fazer, “você está dizendo: eu não deixaria isso acontecer comigo do jeito que você está deixando acontecer com você – uma maneira sorrateira e prejudicial de lidar com seu próprio medo da morte”.
O conselho do jornalista – sim, Thrasher se permite oferecer um – é para apenas confiar em si mesmo no desconhecido. “Uma das últimas e mais assustadoras lições que aprendi com minha irmã em seus dias finais foi a importância de estar com ela mesmo quando não havia nada para dizer ou fazer. É aterrorizante estar com um ente querido e admitir que você é impotente para impedir sua morte, mas pode ser o mais poderoso, tranquilo e amoroso presente que você pode dar.”
Sem dúvida, é uma bela reflexão. Ao entrar em um quarto e encontrar uma criança acamada, não é a tarefa do palhaço compadecer o sofrimento alheio, sentir pena, e alimentado por este sentimento oferecer recomendações ao tratamento. Entramos pela possibilidade de que em nosso encontro experimentemos verdadeiramente a alegria – através de uma conversa, de uma troca de olhares, de uma história criada em conjunto, de um esbarrão na porta. Conselho, só se for besteirológico.
E quando a doença arrebata, muitas vezes somos chamados pelas crianças, pelos familiares ou pelos profissionais de saúde. E ali, no quarto ou na UTI, a máscara do palhaço pode cair e não há nada a dizer ou fazer, como aprendeu dolorosamente Steven Thrasher.