Nos últimos anos, vimos nos hospitais o desenvolvimento de diversas políticas públicas de promoção da saúde. Também contemplamos o avanço da Medicina, especialmente impulsionada pela tecnologia e pelas descobertas científicas.
Diagnósticos mais certeiros, máquinas de última geração, remédios com menos efeitos colaterais, exames de imagens tão nítidos quanto nossos olhos sejam capazes de evidenciar. Nos hospitais privados, os serviços de hotelaria quase nos enganam, não fossem os fios que levam ao cilindro de oxigênio e denotam um leito, e não uma cama confortável de hotel.
Estando há mais de 25 anos atuando em hospitais, vimos o bonito progresso, ainda que tímido e marcado por desvios, do Sistema Único de Saúde. No entanto, ainda assim, não escapam dos nossos sentidos as pequenas tragédias que habitam os hospitais.
O médico que tem de dar um diagnóstico difícil para o jovem paciente. A mãe que segura as pontas como pode enquanto o chefe cobra seu horário. A enfermeira que não consegue sorrir porque tem carregado, sozinha, muitas histórias tristes. O medo da cirurgia. O segurança que precisa conter a ira de acompanhantes tomados pela raiva depois de hora de espera por uma notícia. A criança berrando de dor.
Afetos tão espontâneos e instintivos que revelam que, sim, somos humanos, demasiado humanos! Sentimos tristeza, medo, raiva, solidão e, vamos ser sinceros, há horas em que pouco importam tecnologia e progresso.
E se a vontade é correr ou se esconder em um buraco, a vida exige que enfrentemos essas tragédias cotidianas no hospital. É no enfrentamento, é na resiliência que temos a perspectiva – ainda que incerta – de superar a dor ou a doença.
De recuperar, como ensina o filósofo Espinosa (veja no vídeo abaixo), a potência de agir.
No papel de palhaços que intervêm em hospitais, quando sentimos que essas pequeninas tragédias vão se acumulando pelos corredores, pelas enfermarias e pelos jalecos, buscamos na arte a salvação. Não a salvação transcendente (ou a muleta metafísica, como diria Nietzsche!), mas uma forma de dizer o indizível, de navegar um mar nunca dantes navegado.
Através da máscara do palhaço, enxergamos um hospital com muitas nuances, muitas possibilidades. E nele, as pequenas tragédias não precisam ser varridas para debaixo do tapete, não precisam ser esquecidas. Mas sim, elas podem se transformar em respiro, em poesia, em música, em sorrisos… E, com alguma sorte, até em alegria.