De fora, a gente olha o Hospital da Restauração e pensa na sua grandiosidade, que não passa despercebida pelos transeuntes da Avenida Governador Agamenon Magalhães, em Recife. De dentro, a gente se perde no monte de corredores, salas, enfermarias e consultórios deste enorme edifício.
Ala norte é sentido Olinda, ala sul é sentido Boa Viagem. Quando comecei a trabalhar lá como palhaça, eu tentava me localizar com um mapa imaginário.
Todo mundo conhece alguém que já passou uma temporada no famoso HR. Observando e frequentando a Pediatria, aquele andar inteirinho cheio de crianças, percebi que há tantas famílias ali, às vezes momentaneamente, às vezes por tanto tempo, que se movimentam como se estivessem em suas casas.
É como se fosse um condomínio. O condomínio-hospital. Cada enfermaria é um prédio e cada leito uma casa. Algumas pessoas tiram a sorte grande de ter um “apartamento” com vista para o mar, como chamamos carinhosamente o canal da Agamenon.
A vizinhança se mostra bem solidária. Não tem troca de xícaras de açúcar, mas tem muita doçura ao olhar a cria da outra enquanto uma toma banho ou corre para as refeições. Ah, também deve ter briga de condomínio… e gente que ronca a noite toda ou acende a luz na hora errada. Os profissionais atuam como síndicos que recebem toda a sorte de reclamações para administrar!
No condomínio HR Residence, como o apelidei, conheci Regis. O menino já habitava um apê de um dos prédios do norte. Morador antigo, anfitrião com sorriso no rosto, como se quisesse nos dizer sempre: “Que bom que vocês chegaram. Entrem. Aceitam um café?”.
O meu parceiro Dr. Lui já demonstrava intimidade com a família e as portas abertas de Regis. Tinha até uma música exclusiva para o menino, que se divertia com a composição do besteirologista. Era como se a gente tivesse tocando a campainha, sabe?
Nunca, nunquinha encontramos Regis triste. Mas teve um dia que não o encontramos no condomínio.
Como assim? Cadê Regis? Soubemos, através da vizinhança, que Regis foi morar em outro prédio, outra cidade. Foi embora sem deixar o novo endereço. Só deixou mesmo suas marcas, não dá pra chegar sem lembrar daquele morador feliz.
Não deu tempo desejar as boas idas pra Regis, mas queremos muito que ele possa encontrar refúgio, abrigo, amor, proteção, alimento e descanso aonde quer que vá. E que o leito que o receber seja sempre um lar doce lar.