Há pouco mais de um ano entrávamos no hospital pela última vez antes do primeiro dos muitos isolamentos que viveríamos e não imaginávamos que seria tão longo, tão triste e tão duro. Mas não vou falar sobre as perdas que vivemos ou sobre o descaso que sofremos. Vou falar do que aprendi e tenho aprendido. Vou falar de flores.
Precisamos falar sobre flores, sobre como florir nosso coração. E não pense que estou me cegando a tudo que acontece ou que estou mudando para um assunto mais agradável. Nada disso.
Falar de flores, de poesia e de amor é um ato de resistência em tempos tão sombrios, tempos em que brutalidade e ignorância ganham mais espaço que gentileza e conhecimento.
E nos manter otimistas exige de nós um trabalho muito grande. Por isso, tento plantar flores diariamente.
Não assistir ao noticiário por um dia para ver uma criança que aprende a falar é uma flor que nasce no meu dia.
Desconectar das fake news dos grupos familiares do WhatsApp para arrumar minhas gavetas é outra flor que nasce no meu dia.
Aprender um instrumento, uma língua, ler um livro, ouvir uma música ou caminhar, mesmo dentro de casa, são flores nascendo.
E ao final do dia, quantas flores nasceram? Boa colheita para todos nós.