Tem sido através do computador, dos celulares e da TV que imagens emocionantes abrilhantam nossos olhos nos últimos dias. A tão sonhada vacina chegou aos hospitais.
Claro que ainda falta muito para que todos sejam imunizados, mas ver colegas da linha de frente serem vacinados enche o coração de esperança. Os momentos registrados em fotos detalham cada ação: a chegada, a hora em que recebem a vacina, o cartão com o nome de cada profissional que não mediu esforços para salvar vidas —mesmo arriscando a sua própria.
É sobre cuidado, respeito e dignidade. A vacinação vem como um respiro, embora ainda estejamos em corrida contra o tempo para que mais pessoas sejam vacinadas o quanto antes. E que o medo de perder alguém que a gente ama possa ser amenizado.
Ainda não podemos voltar presencialmente ao atendimento nos hospitais até que estejamos todos em segurança. Continuamos contando com a ajuda das profissionais que reservam espaço no tempo corrido para que as visitas possam acontecer.
Enquanto a vacina não vem, vamos realizando os encontros que sempre tivemos no formato 3D, três vezes diversão. Os profissionais dos hospitais, as crianças e nós, palhaços.
No primeiro andar do Centro de Oncologia do Oswaldo Cruz fazemos atendimentos individuais pelo computador. A brinquedoteca é transformada em Consultório Besteirológico. Outro dia se transformou em uma exuberante floresta, e até lobo apareceu uivando… Dr. Micolino se borrou de medo e Ícaro, nosso paciente, se divertiu com a frouxisse do paspalho!
As crianças sempre encontram jeitos curiosos de olhar para a mesma coisa, estão a todo momento presentes, inteiras, livres. A imaginação não tem limites.
Dia desses meu filho perguntou se calçada é lugar onde se guarda calças. Esse jeito desprendido de olhar e não julgar! Tenho muita sorte de conviver com crianças, pois elas ensinam a enxergar através e além. Transformam areia em castelo, caixa de sapato em casa, dão comida para formigas, são heróis, vilões, brigam e, na mesma hora, se abraçam.
A criança e o palhaço, reflexo um do outro. Acho de uma beleza imensa a gente olhar nos olhos do outro e se enxergar através da íris. Se reconhecer e ser igual.