Minha ansiedade era grande por saber que aquele seria um atendimento diferente. Os pacientes eram adultos e estavam se recuperando de uma doença grave. Estariam de máscaras, então seria difícil ver seus rostos, ler suas reações. Mas eu estava pronta, disposta, aberta e feliz.
Foi com esse frio na barriga que fiz minha primeira visita virtual nesta quarentena.
A preparação
Durante a semana, nos preparamos por meio de encontros virtuais para ensaiar e descobrir as possibilidades de interação que a tela nos dá. No dia, me preparei com antecedência, acompanhada pelos olhos atentos dos meus filhos que ficam por perto observando toda a transformação da mãe em palhaça, da Tereza em Guadalupe. Observam cada detalhe da maquiagem, a colocação do figurino, peruca e, claro, o comemorado nariz vermelho!
Montei meu “set”, ou melhor, meu “consultório” na sala de minha casa, dispondo ao meu redor todos os objetos e cacarecos que costumo usar no trabalho no hospital. Fiquei rodeada de “trecos”, meus preciosos tesouros, aguardando o início da interação. Eu sabia que não utilizaria nem a metade do que estava ali, mas se eu precisasse, tudo estava à mão!
Funciona assim: somos recebidos numa sala virtual pela equipe da Psicologia e Psiquiatria do hospital. Nós, dois besteirologistas devidamente caracterizados e o David Taiyu, nosso coordenador artístico, que fica à paisana, conversamos com a equipe, que relata quais serão os pacientes que iremos atender.
Para fazer o atendimento, contamos com a presença da equipe no hospital, que funciona como nossas pernas e braços. São eles que nos carregam até os pacientes, enquanto acompanhamos tudo pela tela do celular. Eles fazem a aproximação do paciente, introduzem a conversa e nos apresentam.
Naquele dia eu e o Dr. Chicô atendemos apenas mulheres, todas em recuperação devido à infecção pela Covid-19.
Uma visita virtual, um afeto real
Foi uma delícia, de encher a alma e relembrar para nós a potência destes encontros, que nos aquecem pela troca de carinhos, por poder ouvir em tempo real uma risada, por poder conversar e trocar experiências. Que nos deixa num lugar vivo, pulsante, pensando rápido num jogo, numa proposta que possa extrair um sorriso, uma gargalhada ou um simples aceno daquele que está do outro lado da tela.
Por mais que a produção dos vídeos para o Delivery Besteirológico esteja sendo uma experiência riquíssima, plena de aprendizados e o descortinar de um horizonte inexplorado, a troca no momento presente nos faz muita falta. Conhecer a reação da plateia ao vivo, se nutrir dela, pensar no que fazer a partir de então…
É o que nos move, o que nos deixa vivos e o que nos nutre! E claro, é possível sentir que essa troca nutre também quem está do outro lado, lidando com a dura realidade que se apresenta para todos nós.