Dr. Marmelo e Dr. Micolino vinham andando pelo corredor do Hospital da Restauração, estavam começando o dia de trabalho, quando foram surpreendidos por dona Tereza:
– Bom dia, palhaços. Olha como eles estão bonitos hoje! Adorei sua calça, Marmelo! – diz dona Tereza, enquanto admira a calça com cintura no peito vestida por Marmelo.
– Muito obrigado, querida. Isso aqui é “alta costura”.
– Nossa, Micolino, amei seu vestido batendo na sua canela! – emenda a mulher toda admirada.
– Não é um vestido. É uma camisa grande! – explica Micolino.
– Camisa que bate na canela?
– Sim, dona Tereza. É que minha mãe mandou fazer uma camisa grande, que bate quase nos meus pés, para não se perder e eu usar quando crescer.
– Ah, entendi.
– E a senhora está arrasando com seu vestido de bolinha. Nossa, quantas bolinhas! Olha, minha camisa também tem bolinha – disse Marmelo.
– A senhora está perdida aqui no hospital?
– Não, estava esperando vocês passarem. De que horas vocês vão à UTI? Quero entrar com vocês. Tauane, minha filha, vai amar!
– Ah, bem que eu estava lembrado da senhora… Mãe de Tauane!
– Não, Marmelo… Essa é a mãe de Tauane!
– Foi o que eu disse, Micolino. Essa é a mãe de Tauane.
– Não, Marmelo. Você disse que essa é a mãe de Tauane e o que quero dizer é que essa é a mãe de Tauane.
A mãe interrompe o diálogo dos besteirologistas:
– Vocês vão ficar nessa aresia, é? Bora lá ver Tauane!
Dona Tereza e os dois palhaços saíram discutindo pelo corredor do hospital enquanto se aproximavam da UTI. Assim que entraram, foram direto ao leito de Tauane.
A criança estava deitada, em silêncio, e com o olhar focado na parede. Ela tinha acabado de passar por uma cirurgia e ainda estava sob efeito da anestesia, mas acordada.
– Olha, filha, quem veio visitar você. São os palhaços…
A mãe não parava de fazer cafuné na criança.
– Eles vieram cantar uma música para você…
A mão de dona Tereza deslizava na cabeça de Tauane, passava pelo braço, segurava a mão da filha, dava cheiro. Os palhaços ficaram parados, observando e, depois de alguns minutos, Marmelo constata:
– Nossa, a senhora ama muito sua filha, né? Não para de fazer cafuné.
– Muito! – respondeu dona Tereza com os olhos marejados.
– Mas a senhora ama Tauane igual a quantidade de bolinhas que tem no seu vestido?
– Muito mais! – respondeu a mãe.
– Mas a senhora ama Tauane igual a quantidade de bolinhas que tem no seu vestido e na camisa de Marmelo?
– Mais…
– Então, a senhora ama Tauane igual a quantidade de estrelas que tem no céu?
– Muito, muito mais…
– Então a senhora ama Tauane igual a quantidade de grãos de areia que tem na praia?
– Meu amor é infinito.
Dona Tereza, com lágrimas escorrendo no rosto, agradeceu a presença dos Doutores da Alegria. Os palhaços se despediram e saíram cantarolando uma música.
Da porta, quase de saída, os besteirologistas olharam para o leito e viram a mãe cochichando no ouvido da filha e alisando seu rosto. Por trás de nós, a porta se fechou junto com a certeza de que amor não se mede em medidas, mas pode ser dimensionado num simples cafuné do tamanho do mundo.