O dia começa exatamente às 9h15, na lanchonete, com deliciosos salgados e aquele café expresso que dá uma levantada na emoção.
Depois disso, eu e meu parceiro de trabalho seguimos para a nossa salinha dentro do Hospital do Campo Limpo. Nos preparamos e partirmos, já como Dr. Sandoval e Dr. Valdisney, rumo ao Pronto Socorro Infantil.
Assim que chegamos ao Banco de Leite, no 2º andar, nos deparamos com uma cena capaz de abalar as estruturas de qualquer ser humano: um pai conta para uma mãe que sua pequena filha acaba de partir.
Me desculpe pela notícia dada assim, de surpresa. Não consigo descrever a cena além dessas poucas palavras. O choro da mãe, sentada no chão, cortava o coração de todos que passavam por aquele corredor. A expressão no rosto do pai e seu silêncio. Uma dor intensa pairava no ar. Tudo o mais parecia suspenso.
Nós, besteirologistas, palhaços, seres humanos, fomos de fininho desaparecendo em um vão de escadas.
Definitivamente nos retirando de cena. Ficamos nas escadas por alguns instantes, em silêncio, respirando fundo, buscando forças para iniciar nossa primeira consulta.
E então, após esse tempo, depois de respiros, olhares e muita parceria, começamos a subir as escadas rumo ao 3º andar, onde fica o Pronto Socorro Infantil, para recomeçar o dia de trabalho.
“Mas de uma coisa fiquem certos
Para ser um bom palhaço
É preciso alma forte
E também nervos de aço…”
(Trecho de uma poesia do Palhaço Picollino/ Roger Avanzi)