Os palhaços contaram os dias – literalmente – para voltar aos atendimentos presenciais nos hospitais em 2021. No caso dos Drs. Dud Grud e Eu_zébio, foram 1 ano, 7 meses e 2 dias longe fisicamente das unidades de saúde. E a volta dos nossos besteirologistas foi ao som do carimbó! Esse relatório foi escrito em outubro de 2021. Chega mais!
A volta ao som do carimbó
Imaginem se existisse um Felicitômetro, equipamento para medir o grau ou tamanho da felicidade que uma pessoa sente? O nosso certamente teria chegado à marca máxima logo no primeiro dia do retorno presencial ao trabalho depois de 1 ano, 7 meses e 2 dias longe dos corredores e enfermarias do hospital. E ali estávamos nós, os besteirologistas, de volta com toda vontade e mais determinação ainda de potencializar encontros e construir histórias.
Num primeiro momento, mal entramos na UTI, uma pessoa chamada Amanda colocou a cabeça pela brecha da porta e começou a nos agradecer por nosso retorno, com um discurso assim, ensaiado na ponta da língua:
– Agora sou residente de enfermagem, mas a minha experiência é de quando eu estava com minha filha internada aqui no hospital. Vocês foram muito importantes na recuperação dela, não via a hora do retorno de vocês para o bem de todos nós!
Foram tantos recados e depoimentos nos encontros de apenas quatro dias que precisamos colocar aqui ao menos uma parte deles.
Ao final do primeiro dia desse nosso retorno, encontramos a psicóloga Valquíria, que nos saldou como se fôssemos celebridades da TV e do cinema, querendo tirar fotos e nos dizendo que somos muito necessários ao hospital, que ela pode perceber a diferença no tratamento das crianças quando estamos por perto. E não é que temos um caso concreto para compartilhar? Vamos lá!
Logo no primeiro dia encontramos Deílson na UTI. Ainda lembramos dos seus olhos expressivos nesse nosso primeiro encontro, ali quietinho, sem mexer sequer a boca. Num encontro seguinte, já na enfermaria, introduzimos um tratamento rítmico à base do carimbó – ritmo típico da região Norte do país. Procedimento: fazer o paciente realizar uma sequência de movimentos, de acordo com a letra da música de Pinduca, o rei do carimbó:
“Braço pra cima, braço pra baixo
Agora eu já sei como é que é
Só falta bater a mão
Batendo também o pé…”
Para Deílson era um desafio a cada dia, mas ele foi conseguindo passar todas as fases com muita destreza. Até que, no último encontro, além de cumprir todo o ritual no ritmo da música, pudemos ouvir a voz dele que ainda cantou a parte final:
– É carimbó, é carimbó!
E desta vez foi o seu pai que quase repetiu o mesmo recado da Dra. Valquíria:
– Vocês são tão importantes quanto os médicos, quanto os remédios… Vocês também são uma espécie de tratamento. Eu estou filmando aqui não é para divulgar e sair mandando para alguém, quero guardar para que lá na frente a gente possa relembrar com alegria o caminho da nossa vitória.
Agora imaginem a pessoa dizendo isso tudo com uma alegria no peito e os olhos marejados pela emoção – inclusive os nossos também ao ouvir – de quem era testemunha da evolução do filho através da rotina carimbolesca? Deixamos amarrado e receitado o compromisso de que até receber alta, os dois, pai e filho, irão fazer o carimbó rebolando até embaixo.
Será que eles conseguem?
Dr. Dud Grud (Eduardo Filho) e Dr. Eu_zébio (Fábio Caio)