Mãe, mamãe, mainha…
Você já notou como as mães são tão diferentes, mas como conseguem, ao mesmo tempo, ser tão iguais?
Elas são feitas de uma matéria que talvez os maiores cientistas do mundo não sejam capazes de entender. Mas como nós somos besteirologistas muito espertos, conseguimos catalogar as reações de cada uma. Ou seria de todas elas?
Por exemplo, a mãe misteriosa é aquela que deixa claro sem deixar claro.
– Menino, passa já, senão…
Quem nunca ouviu esse “senão”? Fica sempre uma interrogação no ar, mas o tom denuncia claramente que o clima pode esquentar.
A mãe que silencia, mas não antes de dar um recado.
– Menina, não vou falar de novo!
Por que será que elas dizem que não vão falar de novo? O melhor mesmo é não insistir.
Tem também a mãe de Pablo, dona Gezeuda. Uma mulher que conhecemos no Hospital da Restauração, no Recife, moradora do interior do estado de Pernambuco. Ela estava ali cuidando do filho, uma criança de 2 anos, que passava todo o tempo deitada no leito tomando oxigênio.
Já fazia mais de um mês que mãe e filho estavam no hospital. Ela dormia ao lado do seu filho todos os dias, sentada em uma cadeira, fazendo de conta que era uma cama. Ela também dava banho em Pablo. Já pegamos no flagra ela contando algum segredo ao pé do ouvido dele.
Certo dia, andando pelo corredor do hospital, ouvimos um grito vindo da porta da enfermaria da criança. Quando olhamos, dona Gezeuda estava em pé, com a mão na cintura, e gritando:
– Passaram direto? Não vão olhar para meu filho hoje?
– Mas ele tá dormindo?
– Venham aqui, seus palhaços. AGORA! Cantem uma música para ele.
– Mas Pablo está dormindo.
– Vou contar de 1 até 3 e quero vocês aqui… 1, 2…
Eu, Dr. Micolino, e Dr. Marmelo fomos correndo para chegar a tempo. Quando entramos na enfermaria, a criança estava no seu leito, nem dormindo nem acordada, estava lá e cá, mas a mãe estava aqui, junto da gente:
– Canta uma música para meu filho.
– Para o seu filho ou pra senhora?
– Para de conversa e canta logo, palhaço. Estou estressada, com saudade de casa, cansada e preocupada.
– A senhora é quem manda.
Dr. Marmelo pegou seu violão e mandou “Conga Conga Conga”, da cantora Gretchen. A mãe de Pablo, dona Gezeuda, assim que a música começou soltou um grito de animação e começou a dançar no meio da enfermaria. Ela mexia todo o seu corpo, rebolava o quadril, balançava seus braços, descia até o chão. Ela também chamava outras mães para dançar com uma frase que tocou muito a gente:
– Vamos, gente, vamos dançar! Só assim para desestressar! Só assim para desestressar! Vamos, gente! Dançar, só assim para curar. Né, meu filho?
Ela se dirigia até sua criança e lhe dava beijinhos. Foram minutos assim. Nem o movimento das médicas e enfermeiras entrando no quarto fez com que ela parasse. As profissionais desviavam dela, mas não interrompiam seu gingado. Até que a música acabou. Ofegante e suada, ela se dirigiu até a gente:
– Muito obrigada, palhaços! Agora vocês podem ir.