Revisitando os Balanços Anuais da Doutores da Alegria, desde quando passaram a ser livros “colecionáveis” (lá se vão 18 anos!), é possível ver, para além do colorido habitual, duas cores. Palhaços e palhaças são brancos. O público atendido nos hospitais é negro.
Essa divisão tão nítida para nós, hoje, revela uma associação que por muitos anos, mesmo sem ter consciência disso, replicava o racismo estrutural da nossa sociedade. Foi em 2016, após a estruturação da nova governança e em consonância com a efervescência do assunto no debate público, que Doutores da Alegria deu passos para reparar historicamente essa divisão.
Por que pessoas pretas eram nosso público prioritário, mas não nosso público interno?
Chegamos a 2023 com um terço do elenco de artistas negro e com um terço dos profissionais multidisciplinares negros. Trazemos neste Balanço, que tem a diversidade como tema, um censo da equipe, hoje composta por pessoas LGBT+, pessoas com deficiência, pessoas de religiões e territórios diversos.
Nas próximas páginas explicamos como promovemos espaços mais justos ao alterar o estatuto para receber mais associados pretos e pardos, ao criar editais de seleção que priorizem essas pessoas, ao buscar profissionais para compor as equipes e selecionar um artista que faz uso de cadeira de rodas no Rio de Janeiro.
Essas políticas de inclusão foram reconhecidas em dezembro pela Prefeitura de São Paulo, que entregou o Selo de Direitos Humanos e Diversidade para Doutores da Alegria. O programa destaca boas práticas em direitos humanos feitas por empresas, organizações da sociedade civil, órgãos públicos e coletivos.
Não estamos criando um cartão postal de ações afirmativas. Essa mistura torna nossa arte ainda mais potente. Aos poucos, coletivamente, mudamos a cultura de uma organização que nasceu branca e que hoje é preta, branca, parda e amarela.
Ainda há muito a ser feito. Nós nos orgulhamos de ter um programa de formação para jovens que há anos inclui profissionalmente centenas de artistas negros e pardos no mercado artístico —mas está no horizonte ampliar e atualizar a base pedagógica da Escola, que ainda tem referência na branquitude.
E é com alegria que ouvimos uma pequena paciente contar à mãe, na enfermaria, que a palhaça era igual a ela. Um espelhamento essencial para uma organização que sempre usou o mote “a máscara se dá pelo outro”.
O Balanço de 2023, assim como Doutores da Alegria, é de muitas cores.
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