Já faz um tempo que conhecemos a L. Ela tem a visão bem fraca, só enxerga muito de perto. Mas tem uma sensibilidade muito forte.
Em nossos primeiros encontros, já percebemos o quanto ela gosta de palhaço. Ela tocou nossos narizes, nossos sapatos, tudo o que tínhamos nos bolsos. Um fantoche de dedo, cartas de baralho mágica, bolas de cristal e até minha cartola de malabarismo voadora. Ela soube exatamente quem éramos: Dr. Pinheiro e Dra Greta.
De um tempo para cá, ela esteve internada e temos nos encontrado direto. Sempre que chegamos o pai ou a mãe perguntam se ela sabe quem chegou.
– DOUTORES DA ALEGRIA!, ela grita.
Perto de completar seis anos, L. é uma criança encantadora, conversa melhor que muito adulto. Dia desses chegamos ao seu quarto e a encontramos brincando com uma residente do hospital. Entramos na brincadeira: L. pegava o fogãozinho de brinquedo, a cama e os móveis e me passava, dizendo:
– Pega para você sentir como é!
Ao final do dia, passamos pelo corredor e lá estavam elas, juntas novamente. E dessa vez dançando valsa… Isso nos emocionou! Na última semana, quando chegamos ao quarto, L. estava saindo com outra criança em direção ao andar da Quimioterapia.
– Vamos juntos!, disse ela, pegando em minha mão.
E eu fui como seu guia, um sentimento de parceria e confiança que ganhamos com o tempo, a cada visita, a cada encontro.