Nós, que vivemos em grandes cidades, estamos acostumados a esperar por tudo na vida. Esperamos parados no trânsito, em filas nos bancos ou até mesmo o resultado de um teste. Mas nenhuma espera se assemelha à espera pela morte.
No Instituto de Tratamento do Câncer Infantil, em São Paulo, há muitos pacientes nos cuidados paliativos. Para quem não sabe, os cuidados paliativos são exercidos para dar qualidade no final da vida a pacientes que nada mais têm a fazer a não ser esperar pela morte. Não há mais solução para o caso deles.
Já diria o velho dito popular:
“A única certeza que temos nessa vida é a de que vamos morrer um dia.”
Esses pacientes sabem que seus dias estão contados.
Eu fiquei impressionado com a força desses “meninos” que mesmo diante da morte conseguem tirar alegria dos pequenos encontros que temos. Vi que para eles, e consequentemente para nós, besteirologistas, os encontros tornam-se extremamente importantes, pois não sabemos se esse encontro se repetirá no outro dia. É praticamente impossível para nós falarmos “até segunda!” já que pode ser que ele não esteja mais lá nesse dia.
Esses encontros com esses “meninos” se refletem em nossa vida particular, pois passamos a potencializar os encontros que a vida nos oferece.
Lembrei do que disse o renomado samurai Musashi:
“… amar a vida não era o mesmo que satisfazer a fome sem nada fazer, ou viver longamente sem nenhum objetivo. Significava, isto sim, esforçar-se para dar sentido a essa inestimável vida no momento em que se via obrigado a dela se despedir, dar-lhe o devido valor, riscar no céu da humanidade, até o último suspiro, o luminoso traço de uma vida plena de significado.
Ali estava o âmago da questão. Comparados às centenas de milhares de anos da humanidade, os setenta ou oitenta anos de duração da vida de um homem não eram mais que um piscar de olhos. Nessas circunstâncias, mesmo que um homem morresse antes de completar vinte anos, sua vida teria sido longa se fosse brilhante. Esse seria também o retrato do homem que verdadeiramente amava a vida.
Dizem que o período mais importante e difícil, em todos os empreendimentos, é o inicial. No caso da vida, porém, o mais difícil é o final, o da despedida. Pois é a partir daí que se estabelece o valor ou a duração de uma existência, daí se sabe se ela havia sido fugaz, como espuma na areia, ou um raio luminoso no céu da humanidade.”
Esses “meninos”, sem sombra de dúvida, nos ensinam como se tornar um raio luminoso no céu da humanidade.
Duico Vasconcelos (dr. Pistolinha)
Instituto de Tratamento do Câncer Infantil – São Paulo