Quarta-feira. Dia chuvoso, cinza, frio…
Quarto andar. Um lugar quase caótico, onde as enfermeiras, médicos, nutricionistas e fisioterapeutas quase não têm tempo para parar e passar informações aos besteirologistas. Bem à frente do balcão onde as informações sobre os pacientes são passadas, havia um quarto. Bem diante da porta, um pai.
– O menino está dormindo?
– Não! Está sedado., respondeu o pai.
Dra. Greta e dr. Pistolinha seguiram seu itinerário.
Ao passarem novamente pelo quarto daquele pai, ele pede, um pouco excitado:
– Entrem, ele está acordado!
Os besteirologistas se depararam com uma cena um pouco inusitada. Duas fisioterapeutas mantinham os olhos abertos da criança segurando, literalmente, suas pálpebras. Na mesma hora o dr. Pistolinha sacou seu instrumento musical e fez soar alguns acordes. Uma música triste. Os olhos da criança o seguiam, mantidos abertos pelas fisioterapeutas.
– Essa música é muito triste. Toca uma mais animada! – emendou uma das fisioterapeutas.
Sem titubear, Pistolinha e Greta emendaram um Atirei o pau no gato em ritmo de rock.
Os médicos, enfermeiras e fisioterapeutas foram entrando no pequeno quarto, fazendo com que quase não coubesse mais ninguém lá. Sacaram de seus celulares e começaram a filmar e tirar fotos. Era raro aquele paciente estar acordado, ou quase… O rock´n’roll rolava solto, até um final apoteótico.
Quando a música terminou e os besteirologistas estavam para se retirar, fazendo o sinal com as mãos típico dos roqueiros, o paciente, com uma força e generosidade sobre-humana, começou a erguer sua mão esquerda, tentando fazer o sinal dos roqueiros.
O ar ficou em suspensão. Segundos viraram eternidade. Os rostos das fisioterapeutas iluminaram-se. Ninguém respirava.
O braço volta a descer. Saímos do quarto sabendo que algo muito importante e bonito havia acabado de acontecer. O dia já não era mais tão cinza, frio e chuvoso. Tudo ficou mais claro.
Dra. Greta Garboreta (Sueli Andrade)
Dra. Pistolinha (Duico Vasconcelos)
Instituto da Criança – São Paulo
Setembro de 2013