Desde que começou este ano de 2021, no Brasil e no mundo vem acontecendo diversas homenagens para aquele que foi e segue sendo nosso maior educador brasileiro: Paulo Freire, culminando com o dia de ontem (19), que marcou seu centenário de nascimento.
Na Diretoria de Formação, não tem como não refletirmos sobre seus ensinamentos e como suas principais ideias estão presentes no nosso projeto educativo que se materializa, entre outros, no curso mais longo: Formação de Palhaços para Jovens – FPJ.
Mas qual a relação que existe entre formar jovens palhaços e Paulo Freire? Primeiramente é importante recuperar a Tarefa Institucional construída de forma coletiva, em 2016:
“Doutores da Alegria tem o propósito de intervir na sociedade propondo a arte como mínimo social para crianças, adolescentes e outros públicos em situação de vulnerabilidade e risco social, privilegiando hospitais públicos e ambientes adversos, tendo a linguagem do palhaço como referência.
A partir desta intervenção, ampliar canais de diálogos reflexivos com a sociedade, compartilhando o conhecimento produzido através de formação, pesquisa, publicações e manifestações artísticas, contribuindo para a promoção da cultura e da saúde e inspirando políticas públicas universais e democráticas para o desenvolvimento social sustentável”.
Em tempos tão difíceis como os que o Brasil vem vivendo em todos os setores, é importante reforçar a proposta da Tarefa Institucional da organização, que entende a arte como um mínimo social. A arte como direito e necessidade. Aquela que, somada à educação, permite construirmos um mundo mais justo e sustentável.
Com esse foco, realizamos o FPJ há mais de 10 anos. Muitas mudanças nesse tempo de existência o curso atravessou. Hoje oferecemos uma formação artística de dois anos de duração, para jovens em situação de vulnerabilidade e risco social, na faixa etária de 17 a 23 anos.
Esses jovens escolheram a arte como caminho de profissionalização. Para nós formadores, inspirados nos ensinamentos de Paulo Freire, sabemos que não há espaço para uma educação que apenas transmite os conhecimentos selecionados, que devem ser aprendidos. Os estudantes não são depósitos vazios que nada sabem.
Partimos da certeza de que as histórias de vida desses estudantes são a base de suas experiências artísticas. Portanto, devem ser respeitadas, sem julgamentos, e servirem de reflexão para entender o mundo e agir de forma autônoma. Os jovens são acolhidos, sem paternalismos, mas com profundo respeito pelo que são e pelo que vivem. As experiências artísticas acontecem em diálogo permanente com o mundo em que estão inseridos. Não basta ajudar a aprender, a ideia é transformar o mundo pelo caminho da arte.
Defendemos que os formadores também aprendam com os estudantes. Porque ninguém é capaz apenas de aprender ou de ensinar. Aprendemos e ensinamos na convivência, sem, contudo, misturar os papéis, pois não existe saber superior a outro, mas são saberes diferentes que se enriquecem no diálogo permanente.
Sabemos da força transformadora que a educação em diálogo com a arte possui, combatendo o pensamento único, para que cada pessoa tenha liberdade de escolha. Baseados nessas ideias, construímos o currículo do FPJ, em que os estudantes possam se entender consigo mesmo, com o outro e no e para o mundo.
O palhaço é a linguagem do encontro. Pode ser o caminho para uma carreira profissional ou o meio para chegar a outros caminhos, porque como ensina Freire: “Educar é fazer com que as pessoas sejam conscientes das suas posições no mundo de maneira crítica”.
É dessa forma que todos os dias estamos com os jovens do FPJ, mostrando que apesar das dificuldades que enfrentamos no país, devemos seguir fazendo tudo para não perdermos as esperanças, como o grande mestre ensinou: “Num país como o Brasil, manter a esperança viva é em si um ato revolucionário”.