No vaivém das alas pediátricas, verificamos a suspeita levantada por Marcelo Gleiser, professor universitário de física, astronomia e pai de cinco filhos: Toda criança nasce cientista, testando hipóteses e experimentando para aprender.
Ele elabora o pensamento em sua coluna na Folha de S.Paulo, em maio deste ano:
“Para uma criança, o mundo é um grande laboratório, cheio de experimentos a fazer, explorando como objetos interagem entre si, como animais vivem e comem, como plantas crescem e morrem.
Deixar algo cair no chão para ver se quebra, encher um copo com um monte de fluidos e comidas fazendo “poções mágicas”, colocar coisas no fogo para ver como queimam, misturar tintas de cores diferentes, fazer aviões de papel para ver os que voam melhor, colecionar insetos etc.
O mundo se abre quando a curiosidade pode voar livremente. Até, claro, os adultos chegarem. Não mexe nisso! Cuidado, vai quebrar! Você vai se queimar! Se molhar! Levar choque! Ser picado! Temos muito o que aprender com as crianças.”
Voltamos à nossa realidade, inserida em pediatrias de grandes hospitais públicos.
É lá que, todos os dias, os palhaços encontram pequenos e pequenas cientistas que testaram poções mágicas que não deram exatamente certo. Ou que fizeram grandes descobertas gravitacionais ao pularem o muro de casa.
E, claro, topamos com mães, pais e avós inconformados com os exploradores-mirins porque aquilo lhes causou, além do susto, uma temporada no hospital.
Cabe aos profissionais de saúde, entendidos de ciências biológicas e humanas, cuidar dos pequenos para que voltem aos seus laboratórios com um pouco mais de sabedoria e experiência. Da próxima vez, talvez calculem melhor a altura do muro!
Cabe aos palhaços, entendidos de arte, propor novos sentidos para aquela internação, de modo que ela não se transforme em um trauma que possa suspender as atividades de descoberta das crianças.
Pois sim, Marcelo Gleiser, temos muito o que aprender com as crianças.